O silêncio da cobertura me engolia aos poucos.
Havia dias em que ele parecia um abraço — acolhedor, calmo, seguro. Mas hoje… hoje era sufocante.
O relógio marcava pouco depois das três da tarde, e eu já havia contado quantas vezes o vento balançou as cortinas, quantos livros de maternidade estavam empilhados sobre a mesinha de centro e até quantos azulejos brancos havia na cozinha.
Três dias.
Faltavam apenas três dias para a próxima consulta médica, três dias para talvez ouvir da doutora que eu poderia voltar a ter uma rotina um pouco mais ativa — caminhar, fazer algo sozinha, sentir que ainda existo fora do sofá, da cama ou daquela varanda colossal que parecia uma jaula dourada.
Mas até lá, eu era um corpo em repouso.
Um corpo que já não sabia o que fazer com tanto tempo livre e uma mente que não sabia como desligar do passado.
Suspirei, tentando mudar o foco. Olhei em volta. O apartamento estava impecável — Rosa havia saído há pouco, depois de preparar o lanche da tarde e deixar tud