O elevador parecia demorar uma eternidade para chegar ao último andar. O som metálico do motor, o reflexo da minha expressão tensa nas paredes de aço — tudo me fazia sentir como se estivesse preso dentro de um pesadelo que eu não conseguia acordar. Carlos havia me ligado há menos de meia hora, e desde então, a única coisa que ecoava na minha cabeça era a palavra flores.
Quando as portas se abriram, caminhei pelo corredor largo da cobertura com o coração martelando no peito. O apartamento estava iluminado, a voz de Lourdes ecoava vinda da sala de jantar, e por um instante, aquela cena simples — risadas contidas, o som de xícaras sobre o pires — me fez lembrar que ali dentro havia vida, havia calor.
Mas bastou eu cruzar a porta para o instinto tomar o controle.
Manu estava sentada à mesa, o rosto ainda pálido, as mãos entrelaçadas sobre a barriga. Carlos estava ao lado, em posição de alerta, e Lourdes tentava disfarçar a tensão servindo chá. Assim que ela me viu, os olhos marejaram — e