O hospital cheira a pureza e medo ao mesmo tempo. Aquele cheiro de antisséptico que sempre me lembrou a morte hoje tem outro significado: vida. Vida que está prestes a explodir em cor, som e movimento bem diante dos meus olhos.
Manu está deitada na maca, as pernas apoiadas, respirando fundo enquanto mais uma contração a atravessa. Eu seguro sua mão com força — talvez mais do que deveria — mas ela não solta. Pelo contrário: ela aperta de volta. Como se dissesse que também precisa de mim para se manter de pé. Ou melhor… para trazer nossas filhas ao mundo.
Nossas filhas.
A palavra ainda é nova, ainda é mágica. Gêmeas. Eu demorei horas para acreditar quando o médico sorriu para nós no último ultrassom e disse: “Parabéns, vocês têm duas guerreirinhas aqui dentro.”
Dois milagres. Duas razões para agradecer todos os dias por não ter desistido quando tudo desabou.
Mais uma contração vem, e Manu geme, seu rosto se contorcendo em dor. Eu passo a mão em seu cabelo, ao mesmo tempo em que tento nã