A tarde estava pesada, o céu tomado por nuvens espessas que pareciam querer desabar a qualquer instante. Eu havia passado o dia inteiro trancado no escritório, tentando me concentrar em números, relatórios, contratos — qualquer coisa que me distraísse da avalanche de sentimentos que vinha me engolindo desde que Manu entrou de vez na minha vida.
Mas não adiantava. Por mais que eu me afundasse em trabalho, a imagem dela sempre voltava. O jeito como o olhar dela oscilava entre medo e confiança. O toque hesitante quando ela deixava que eu me aproximasse. O som da risada contida, como se ela tivesse esquecido o que era sorrir.
Fechei o notebook e respirei fundo. Aquele dia pedia silêncio, não reuniões. Pedia lembrança.
Peguei o casaco, as chaves e saí do prédio, sem avisar a ninguém para onde ia.
A caminho do carro, o ar frio de outono me envolveu, trazendo um tipo de nostalgia que me doía fundo. Dirigi sem pressa, o rádio desligado, o som do motor servindo de trilha para o que vinha.
No t