Cheguei ao prédio já com o corpo cansado, o cheiro de cigarro e café velho grudado na roupa, marcas de mais um dia na delegacia. O sol se despedia atrás dos prédios, tingindo o céu de um laranja gasto, e tudo que eu queria era um banho e silêncio. Mas quando dobrei a esquina do corredor, vi alguém que me fez parar.
Dona Lurdes.
A velha faxineira do prédio.
Eu não a via desde antes de Manu desaparecer. Sempre com o avental florido e o lenço preso na cabeça, varria o corredor e sabia da vida de todo mundo. Se alguém tinha visitas, se houve briga, se o encanamento do segundo andar estourou — nada escapava dela.
E, por coincidência ou destino, ali estava a velha, arrastando o balde e o rodo, cantarolando uma música antiga.
Respirei fundo. Aquilo podia ser sorte.
— Boa noite, dona Lurdes. — A voz saiu mais calma do que eu esperava.
Ela se virou, os olhos se estreitando um pouco antes de me reconhecer. — Uai, mas veja só quem apareceu! O marido da moça… da Manu, né? — largou o rodo encostad