A porta da cobertura se fechou atrás de mim, abafando o som distante da cidade. O silêncio me recebeu, cortado apenas pelo tique-taque do relógio na parede e o som baixo da televisão ligada na sala.
Deixei o paletó sobre o sofá e afrouxei a gravata, sentindo o peso do dia cair dos ombros. Era tarde, mas o apartamento estava banhado por uma penumbra calma, iluminado apenas pelas luzes amareladas que vinham da cozinha. Foi quando a vi — Manu dormia encolhida no sofá, os cabelos soltos espalhados sobre a almofada, o rosto tranquilo, quase sereno.
No centro da mesa de centro, o buquê de flores que eu havia mandado estava ali. As pétalas ainda frescas, o laço de fita desfeito, como se tivesse sido aberto às pressas.
Sentei ao lado dela, observando o pequeno sorriso que curvava seus lábios. Havia algo diferente em vê-la assim, em paz. Por tanto tempo eu a vi carregando medo, hesitação, aquele olhar fugidio que me feria mais do que qualquer palavra. Mas ali, com o rosto relaxado, ela parecia