Gabriela passou a manhã olhando para o bilhete de Miguel como quem encara um mapa antigo, tentando decifrar o caminho que ele deixou nas entrelinhas.
“Às vezes, amar é saber a hora de recuar.”
Mas e quando o amor também grita por presença?
Ela não era mais a mulher que esperava promessas que não seriam cumpridas.
Dessa vez, iria atrás.
No começo da tarde, deixou Manu com uma vizinha de confiança e pegou um ônibus para o centro da cidade.
Lembrou-se de um comentário que Miguel havia feito semanas antes:
“Quando eu preciso pensar, costumo ir até o mirante da velha igreja no alto da cidade… Lá ninguém julga o silêncio.”
A velha igreja.
Era lá que ele estaria.
A subida até o mirante foi longa. As pedras antigas do caminho contrastavam com o barulho distante da cidade abaixo.
O céu, cinzento, parecia combinar com o que ela sentia por dentro.
E lá estava ele.
Sentado num dos bancos do jardim ao lado da capela, Miguel olhava o horizonte, as mãos unidas como quem ora sem palavras.
Gabriela p