Isabela
As ruas de Veneza tinham aquele cheiro antigo de história e maresia, como se cada parede tivesse assistido a mil despedidas e reencontros. Eu caminhava ao lado de Matheu por vielas estreitas, ouvindo o som abafado da cidade sob nossos passos. Ele segurava minha mão com força, como se ainda não acreditasse que eu estava ali de verdade.
— É logo ali — disse, apontando para uma porta discreta entre duas casas de pedra.
Subimos por uma escada íngreme e antiga, o corrimão de ferro frio sob meus dedos. O apartamento era no último andar de um prédio baixo, com janelas que se abriam para os telhados vermelhos e as águas silenciosas dos canais.
— É simples — ele disse, girando a chave — mas é nosso, por enquanto.
A porta rangeu ao se abrir, revelando um lugar pequeno, mas acolhedor. As paredes tinham aquele branco gasto pelo tempo. Uma poltrona azul ficava de frente para a janela, e havia livros empilhados no chão, como se ele ainda estivesse tentando dar forma a um lar. Um quadro tort