Lorenzo Bianchi
Entrar naquela casa, depois de tudo, era como atravessar uma fronteira invisível.
Não era só o lar do meu padrinho, nem só o lugar onde cresci correndo entre os corredores e vinhedos. Era o mundo dela. Era o chão onde Aurora foi criada, onde cada parede conhecia os passos dela — os de alegria, os de dor. E agora, depois de tudo, eu voltava ali com a mão dela na minha. Não como amigo, nem como o afilhado que todos um dia viram como um filho extra. Eu voltava… como escolha. Como recomeço.
O ar dentro da casa parecia diferente. Mais denso, talvez. Ou era só o peso do que eu carregava no peito.
Aurora soltou minha mão ao atravessarmos a porta e correu até a cozinha com tia Isabella, deixando-me com tio Matheu. Ele ainda estava parado, perto da porta, como se observar fosse sua forma de proteger. Me senti mais exposto do que em qualquer outro momento da minha vida.
Ficamos em silêncio por longos segundos.
Ele não precisava dizer nada — o olhar já dizia tudo.
"Ela é minha fi