Quero algo diferente

Parte 5...

Matteo

— Eu não entendo você, Matteo. Sempre soube que esse dia chegaria, qual é o drama agora?

— Não estou fazendo drama, apenas estou ansioso, só isso. É uma mudança na minha rotina.

— Você já está mesmo na hora de se casar. Vive por aí, trocando de mulher o tempo todo. Isso não pega bem para sua imagem.

— Olha quem fala... Você não se olha no espelho? Você troca de mulher como quem troca de roupa – o garçom serviu minha refeição e comecei a comer — Eu pelo menos consigo ficar um tempo com as mulheres com quem me envolvo.

— Ai, nossa... Três meses é mesmo um grande tempo. Dá pra viver uma vida inteira – riu irônico.

— Eu não fico muito tempo porque sempre soube ter um compromisso e além do mais, essas mulheres estão todas muito parecidas.

— E o que tem demais isso?

— Eu não vou me prender a uma pessoa que é igual a trocentas mais por aí, Tizziano. Em breve vou assumir uma posição de destaque no nosso meio e não posso ficar aparecendo com uma esposa que não faz nada, além de compras.

— E como vai fazer? Já sabe quando a garota vai vir para cá?

— Falei rapidamente com o pai dela. Ele já mandou alguém até o colégio interno.

— Então ela vai voltar com ele?

— É o que parece – suspirei — Tenho que correr e organizar as coisas por aqui. O tempo passa muito rápido.

— Está falando do casamento ou de nossos negócios?

— As duas coisas – balancei o garfo — Eu não sei por onde começar com isso do casamento.

— Por que não fala com a mãe? Ela vai saber.

— Você sabe que ela esteve muito doente recentemente. Eu não quero colocar essa responsabilidade nas mãos dela.

Ficamos calados por um momento, apenas comendo. Eu não tenho o menor jeito para preparar esse tipo de evento. Aliás, evento nenhum.

— Já sei. Por que não contrata uma dessas organizadoras de eventos? Em Roma vai ser fácil encontrar alguma agência dessa, com certeza.

— É, pode ser mesmo uma boa ideia. Você faz isso pra mim?

Ele me olhou torcendo a boca.

— Tudo bem, mas só porque eu sei que se deixar isso com você, os convidados vão comer pão com água.

Eu ri, balançando a cabeça, mas ele tem razão. Eu sempre fui péssimo para festas. Acho uma perda de tempo o tanto de investimento emocional e financeiro em cima disso. Pra mim um documento assinado já serve e pronto.

— Será que ela vai ser uma boa esposa?

— Não sei – dei de ombro — Não tem como saber isso antes de me casar.

— Por que você nunca procurou a garota?

— Não achei legal fazer isso – franzi o nariz enquanto cortava a carne — Ela é muito nova, eu me sentiria estranho indo atrás dela para falar de um futuro casamento.

— Ok... Mas e o que mudou, irmão? – ele deu uma risadinha — Ela continua muito nova, não é?

— Eu sei, tonto... Só que agora ela é uma mulher e não uma menina.

— Bem... – ele se inclinou com uma expressão cínica e os olhos brilhando — Tecnicamente ela ainda é uma menina – fez um gesto obsceno com a mão — A não ser que alguém lá no colégio já fez o favor pra você e agora ela é uma mulher.

Larguei o garfo e a faca e limpei a boca com o guardanapo.

— Às vezes a vontade de quebrar seu nariz vem forte, sabia? – ele se encolheu rindo — Que coisa mais idiota de se falar.

— Mas pode ser verdade, não é? – eu puxei o ar fundo, o encarando de cara feia — Calma, calma... Eu não tenho culpa se a vida é assim, irmão. Você deixou a garota sozinha todos esses anos... – abriu as mãos espalmadas — Quem te garante que ela ainda tem o selo de garantia.

Eu fechei os olhos por um segundo.

— Eu juro por Deus, Tizziano... Qualquer dia desses eu vou mandar cortar a sua língua.

— Ei... Calma lá... Eu sou seu irmão.

— Eu sei e só por isso que eu ainda não mandei te darem uma surra merecida. Você tem problemas, é sério - bati na testa — Coma e cala a boca, “stronzo”.

— Não se desespere, irmão – deu uma risadinha descarada — Vai que de repente ela ainda é virgem? Pode acontecer, não é?

— Isso não importa – voltei a comer — De qualquer forma nós vamos nos casar. Está tudo arranjado há tempos.

— Não importa mesmo? Logo você?

Eu sei o que ele quer dizer, mas está enganado. Eu posso parecer mais frio e cheio de regras, mas é porque é assim que deve ser. Quando nosso pai sair de vez e eu assumir o cargo dele, os outros precisam me ver de uma forma fria, calculista.

Apesar disso, eu tenho um lado mais aberto e gosto de modernidade. Se ela é virgem ou não, isso não é mesmo importante para o casamento. Vai acontecer de qualquer forma.

Claro, se ela for ainda, eu vou gostar mais. É meu lado machista falando, com o ego de quem sabe que meus futuros herdeiros serão realmente meus, mas não é uma cláusula que deve ser fechada a ferro no acordo entre nós.

— Ser virgem não vai mudar o papel dela dentro de nossa relação.

— Que relação? – ele riu de novo — Você nem mesmo ligou para ela uma única vez. Pelo amor de Deus, Matteo. A garota deve achar que você nem existe mesmo... Que já morreu faz tempo e a esqueceram naquele lugar. Coitada.

— Deus meu... Como alguém pode falar tanta bobagem assim de uma vez só?

— Pode ser bobagem, mas que tem um fundo de verdade, isso tem – ele pegou a taça e virou todo o vinho — Hum... Muito bom!

Merda! Nisso ele tem razão. Tive tantos anos para poder me aproximar dela e nem mesmo tentei. O que será que ela pensa sobre mim? E será que ela também está ansiosa por esse casamento?

— Vamos mudar de assunto, está bem? Me fale sobre os acordos feitos com os espanhóis.

— Já está tudo fechado. A gente vai fazer uma entrega a cada três semanas, começando na sexta que vem. O pagamento cai antes.

— Certo... Isso é bom – mordi uma fatia de pudim — E sobre os árabes? Eles já entregaram o que pedimos?

— Não por completo – ergueu a sobrancelha — Parece que estão tendo problemas com as autoridades por lá.

— Bem, fique de olho nisso e não deixe que nos enrolem. Se passar mais de vinte e quatro horas do prazo, entre em contato.

— Pode deixar, eu não vou decepcionar você.

— É bom pra sua saúde, mesmo.

Ele me olhou como se tivesse ouvido um absurdo e depois caiu na risada.

— Ai, meu irmão... Até parece...

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