Parte 4...
Matteo
Parece que todo mundo resolveu vir ao mesmo restaurante hoje. Menos mal que sou um cliente VIP e que tenho um tratamento diferente, senão eu teria desistido e ido embora.
Olhei o relógio. Quase meio – dia. Se Tizziano demorar mais dez minutos, eu vou embora e depois me acerto com ele.
Peguei o celular e abri na galeria de fotos. Só para conferir a nova foto de minha noiva, futura esposa, Valentina. Inclinei a cabeça de lado, olhando a foto enquanto bebia o vinho.
É muito estranho dizer que ela é minha noiva, já que eu nunca falei com ela antes, a não ser pela única vez, muitos anos atrás, quando ela tinha só dez anos.
Eu estava com meu pai e um grupo nosso, tudo muito esquisito e até estressante. Quando já estávamos na casa, é que fui descobrir que aquilo se tratava de um acerto para evitar as desavenças entre nossas famílias. O pai dela era o dono da casa e estava lá sozinho com a filha.
Eu saí para andar pelo jardim, enquanto eles conversavam e ouviam as ideias dos conselheiros. A casa estava cheia de seguranças, nossos e do pai dela. Eu a vi perto da piscina, sentada em uma cama de tomar sol e me aproximei.
De início fiquei só olhando. Depois que ela virou para mim e sorriu, eu me aproximei.
— Oi! – ela cobriu os olhos por causa do sol.
— Oi! – parei ao lado e olhei para a piscina.
— Você vai nadar?
— Não.
— Quem é você? – ela sentou na ponta da cadeira — É amigo do meu pai?
Eu dei um sorriso. Amigo passava longe.
— Meu pai é – mexi o ombro.
— Meu nome é Valentina – ela esticou a mão pra mim e sorriu, esperando que eu pegasse.
— Pode me chamar de Romano – eu segurei sua mão pequena.
— Você quer? – ela me mostrou uma maçã verde — Eu divido. Só não divido chocolate.
Achei engraçado. Ia responder quando um dos seguranças me chamou para entrar.
— Obrigado. Eu prefiro maçã vermelha.
— Ah, você não sabe o que é bom.
Eu ri e entrei, achando engraçado o modo como ela falava. Era uma menina muito bonita. Mas ainda assim, era uma menina.
E quando eu soube que teria que me casar com ela, fiquei muito puto de raiva. Mas nossos pais estavam decididos a isso, o que eu continuei me recusando. Só um ano depois, de tanto meu pai me encher, eu acabei aceitando e soube que o pai dela a tinha levado para um colégio interno na Suíça. Mas agora o tempo tinha corrido e ela já não era mais uma menina e eu tinha que cumprir o acordo.
A foto não era tão recente, mas era a última que recebi. De tempos em tempos uma das professoras enviava uma foto de Valentina para mim. A diretora do lugar sabia de tudo e ganhava muito bem para manter minha noiva inocente.
— Cheguei, cheguei – meu irmão bateu em meu ombro e puxou a cadeira ao lado.
— Até que enfim, Tizziano. Você é muito irresponsável – deixei o celular de lado — Sabe que eu tenho compromissos depois e atrasa. Eu nem comi ainda, esperando por você.
— Não seja ranzinza, está bem? Eu também estava ocupado. Sabe que o pai começou a me encher de obrigações ultimamente, não sei o que deu nele. – chamou o garçom.
— Deu que ele está querendo dividir as obrigações. Está velho, cansado, precisa de um tempo também, não acha? Você vai viver sempre de sombra e água fresca?
— Eh... Por Deus, homem. O que houve? Parece aborrecido.
— Aborrecido, não – passei a mão no cabelo — Só que estou ansioso, é isso. – peguei a taça.
— O que é? – pegou o cardápio e fez o pedido — Ah, já sei... Sua amante atual lhe colocou um par de chifres – riu baixinho.
— Antes fosse isso – torci a boca — Eu não me importo se alguma delas ficar com outro, não tenho compromisso com ninguém, além de minha noiva.
— Ah, é verdade – inclinou a cabeça para trás — É isso, a noiva. O que tem ela? Está doente?
— Não seu tonto – gesticulei balançando a cabeça — Você não presta atenção a nada que eu digo, Tizziano?
— É claro que eu presto atenção, Matteo – ele encolheu os ombros — Mas você fala demais, né? Qual o assunto?
— Eu vou me casar. Meu tempo acabou.
— Mas já? – ele se recostou — Isso não seria lá para o fim do ano?
— Se fosse seguir o tempo certo, sim – me balancei de um lado para outro e cocei a testa — Só que o pai começou a exigir que o acordo fosso cumprido logo. Disse que alguns meses não iriam influenciar em nada.
— Hum... – fez uma careta — Caramba, e agora? O que você vai fazer?
— O que acha? – olhei pra ele como se fosse um idiota que não sabe o que diz — Eu vou me casar. É isso que vou fazer – suspirei cansado.
— Então eu não estou entendendo você. Se já está resolvido, qual o problema?
— O problema é que eu não sei nada da garota. Nunca falei com ela. Tudo o que tenho dela são algumas poucas fotos e informações, mas nada que seja tão interessante assim.
— Bom, se não quer se casar, diga ao pai que não quer e pronto. – lhe dei um tapa rápido na cabeça — Ei! – esfregou o local.
— Você acha que eu já não fiz isso antes? Está lesado das ideias, irmão?
— Não, é que se você tentou antes, pode tentar agora. Vai que o velho muda de ideia?
— Até parece que você não conhece o velho Amir – dei um sorriso sem graça e o garçom voltou com o pedido — Esqueci de pedir... Pode me trazer o mesmo, por favor?
— Claro, senhor. Um momento.
— Tem alguma foto dela aí? – apontou o celular.
— Tenho sim – abri a galeria de novo e passei o aparelho para ele.
— Olha, que gatinha, hein? – apertou os lábios e sorriu — Se você não quer casar com ela, eu quero. Passa pra mim.
— Deixa de ser besta. Me dá! – tomei de volta o celular e ele riu — Tudo pra você é brincadeira.
— Não estou brincando. Se você não quiser, eu quero. Estou sozinho mesmo.
— Vai à merda, Tizziano.