Em meio ao brilho de suas carreiras e à solidez de uma amizade de longa data, dois médicos abastados veem seus corações serem atingidos pela mesma flecha: uma enfermeira de beleza singela e recatada. Dividida entre o apreço por ambos, a jovem se vê em um turbilhão de sentimentos, incapaz de eleger um único caminho para o amor. O destino, em sua ironia, tece uma trama ainda mais complexa quando ela se descobre grávida de gêmeos, concebidos em momentos distintos com cada um dos amigos, lançando uma sombra de incerteza sobre o futuro dos três.
Leer másPérola, uma mulher forte, classe média baixa, em uma sociedade que ela percebia como conservadora e antiquada, enfrentava desde cedo olhares e comentários que a diminuíam. As pessoas ao seu redor pareciam constantemente tentar desmotivá-la, insinuando que sua origem seria um obstáculo intransponível.
Seu lar era uma casa simples em uma comunidade, deixada por seu pai, vítima de bala perdida a caminho do trabalho. Sua mãe trabalhava como diarista, e Pérola cursava a faculdade, buscando um futuro diferente. Enfermagem era sua paixão, um trabalho que realizava com dedicação em um hospital renomado, um lugar que lhe oferecia grandes oportunidades, mas também desafios. O estágio não era fácil; muitos a olhavam com preconceito, zombando de sua condição social. Sua supervisora era áspera e tornava seu dia a dia ainda mais difícil. Recentemente, Pérola cogitou desistir após uma avaliação negativa da Dra. Salete, uma médica conceituada, mas de semblante fechado, que parecia nutrir uma antipatia imediata por ela. Uma colega comentou que Salete a havia chamado de esnobe e arrogante, prometendo "colocá-la em seu devido lugar" se voltassem a trabalhar juntas, alimentando boatos sobre o preconceito da médica. Pérola tinha 21 anos, 1,68m de altura, era magra e chamava atenção quando se arrumava, com seus cabelos longos e sua desenvoltura, especialmente no carnaval, onde desfilava desde criança, apaixonada por dançar. Ela e sua mãe eram muito unidas e se apoiavam mutuamente. Sua mãe nunca mais se envolveu seriamente com outra pessoa após a perda do marido, focando em Pérola. Para ajudar em casa e custear parte da bolsa de estudos, Pérola trabalhava em uma loja de roupas de marca. Nunca havia namorado, e sua mãe preferia a própria companhia, tendo apenas alguns relacionamentos casuais. Um dia, enquanto trabalhava, um homem alto e elegante entrou na loja. Com cerca de 1,90m de altura, barba bem feita e porte atlético, aparentava ter uns 28 anos e atraiu a atenção de todas as vendedoras. Seus olhares se cruzaram, e Pérola, por estar mais perto, apressou-se a atendê-lo. — Olá, boa tarde! Tudo bem? Posso ajudar? — perguntou gentilmente. Ele respondeu sem encará-la: — Procuro um presente, queria algo especial... — Tem alguma referência do que ela gosta? Chegaram essas peças novas... — ofereceu Pérola, mostrando algumas blusas decotadas e transparentes. — Ela não gosta assim, tem outra pessoa para me atender, por favor? Somos clientes antigos aqui — respondeu ele. Pérola se sentiu desconfortável, mas as outras vendedoras estavam ocupadas. — Desculpe, qual a idade dela para eu ter uma noção melhor? — perguntou. — É para minha mãe, procuro algo delicado, mais sutil, menos chamativo! — respondeu ele, sério. Pérola mostrou um vestido vinho na altura do joelho, com mangas até o cotovelo, simples, mas elegante, com um colar de pérolas, uma bolsa de mão e brincos combinando. — Perfeito! Vou levar — disse ele. — Só o vestido hoje? Não quer aproveitar para levar um acessório? — perguntou Pérola, aliviada. — Não, você não entendeu. Vou levar tudo! O vestido e tudo mais que está aí junto — afirmou ele. Pérola ficou surpresa e animada com a comissão que essa venda lhe traria. — Ah, desculpa, eu não tinha entendido! Que bom que gostou da sugestão! — disse. — Não precisa ficar se desculpando a cada cinco minutos, moça! — respondeu ele, antipático. A grosseria do rapaz a deixou abalada, mas a venda compensava seu comportamento. Ela o acompanhou até o caixa, agradeceu e voltou ao seu posto. Ele pagou e, ao passar por ela, disse "obrigado" e "tchau". Aquele tipo de tratamento era comum; muitos clientes a tratavam com desdém, como se fossem superiores. A forma como aquele rapaz falou a atingiu, fazendo-a por um instante fantasiar sobre uma possível chance com alguém como ele, mas logo se conteve, mantendo os pés no chão. Dias depois, em uma manhã em que se sentia particularmente desanimada, Pérola acordou cedo para o estágio, pressentindo um dia difícil. No hospital, foi recebida friamente pela Dra. Salete, que informou que Pérola a acompanharia em uma cirurgia simples para cobrir a ausência de uma colega. Pérola estava nervosa por ser sua primeira cirurgia de perto, e o tratamento da médica não ajudava. Salete instruiu-a a prestar atenção a cada detalhe. Na sala de cirurgia, tudo parecia calmo, mas a médica quase não lhe dava tarefas. Em um momento de breve distração, Salete a chamou rispidamente: — Pérola?! Pérola?! Menina insolente! Aqui não é lugar para se distrair. — Oi... Oi, doutora, desculpe! — respondeu Pérola, constrangida. — Assim espero! — retrucou Salete, arrogante, começando um discurso sobre a falta de profissionalismo dos jovens, insinuando que qualquer um com pouca instrução se achava competente. Pérola, nervosa, deixou cair um bisturi. A médica explodiu: — Não serve mesmo para me ajudar, sua incompetente! Eu já tinha avisado ao chefe que você não ia longe, toda atrapalhada, não consegue nem pegar um bisturi corretamente! Saia agora daqui! Anda! Pérola saiu da sala sem dizer nada, arrasada, mas segurando as lágrimas para não dar mais motivos para críticas. Sua supervisora conversou com ela e a afastou de Salete pelo resto do expediente. Depois, Pérola foi direto para a loja, que estava movimentada. Ao ver o rapaz da outra vez entrar, tentou evitá-lo, preferindo perder a comissão a ter outro confronto. Sua colega o atendeu por meia hora e, como ele parecia indeciso e exigente, pediu a Pérola para assumir a venda. — Olá, posso ajudá-lo? Gostou de algo? — perguntou Pérola, sem muita simpatia. — Estou em dúvida, procuro um presente, ela é exigente, é tão difícil presentear quem já tem tudo — respondeu ele. — Verdade, é difícil. Ela gosta de algo mais básico? — tentou Pérola, sem ânimo. — Não, ela gosta de chamar atenção, é nova — disse ele. Pérola o levou até as novidades, mostrando algumas peças transparentes e rendadas, incluindo um vestido preto curto com um grande decote. Ele fez uma careta imediata. — Ela não se veste assim, é muito vulgar esse tipo de roupa! Pérola mostrou um cropped de renda com um cardigã, que considerava elegante e na medida certa. — Gostou? — perguntou. — Você usaria essa roupa? — ironizou ele. — Não faz o meu estilo, mas é bonito — respondeu Pérola, já esperando algo desagradável. — Se nem você que é assim usaria, imagina a pessoa para quem estou comprando o presente. Ela gosta de chamar atenção, roupas da moda. Acho que não vou encontrar o que procuro aqui hoje! — debochou ele. — Desculpa. Assim como? Não entendi — perguntou Pérola, confusa. — Você usa tênis, roupas falsas, não usa? — continuou ele, irônico. Pérola assentiu. — Fico imaginando como você se veste fora daqui sem esse uniforme. Deve ser ruim para você vender coisas boas e não poder usá-las. Naquele momento, Pérola não aguentou. Seus olhos se encheram de lágrimas, e ela começou a chorar ali mesmo, no meio da loja. Ele estava de costas, e ela tentou limpar o rosto rapidamente, mas foi inútil. Ele se virou, assustado e sem entender. — Me dá licença, vou chamar alguém para te atender... — disse Pérola, com a voz embargada. — Você está bem? — perguntou ele, surpreso. — Não, moço, não estou. E não precisava falar desse jeito comigo. Prefiro usar roupas falsas do que ostentar uma vida que não tenho. Não sou menos que ninguém por isso! — respondeu ela, enxugando as lágrimas. Ele se desculpou, dizendo que não havia se expressado bem. Pérola não respondeu e se afastou, deixando sua colega atendê-lo. Correu para o banheiro, sentindo-se humilhada e exausta. Pediu para sua patroa liberá-la mais cedo, alegando não estar se sentindo bem. Eram umas 18h de sexta-feira. Ao sair da loja, ele já havia ido embora. Chegou em casa exausta e não contou nada à mãe, inventando uma enxaqueca e TPM. Tomou banho, deitou-se e chorou até dormir. Acordou com a mãe chamando para jantar, mas disse que não queria. A mãe percebeu seu abatimento e perguntou o que havia acontecido, mas Pérola apenas disse que estava cansada do trabalho e do estágio, evitando compartilhar seus sofrimentos, especialmente os relacionados ao preconceito, para não preocupar a mãe, que tinha problemas de pressão alta. No sábado, acordou um pouco melhor e trabalhou na loja pela manhã. À tarde, descansou em casa. Recebeu uma ligação de uma amiga, convidando-a para trabalhar em uma festa de aniversário de pessoas influentes. Pérola aceitou na hora, precisando do dinheiro e de uma distração. Às vezes fazia trabalhos extras como garçonete ou recepcionista, e depois sempre se divertia com os amigos. A amiga disse que seria legal e que precisavam ir bem vestidas, maquiadas e de salto alto. Pérola escolheu um vestido preto para a festa, que era em uma balada fechada. Ela ficou na portaria com a lista até a responsável chegar. As pessoas foram chegando, e ela viu o cliente mal-educado da loja. Ele sorriu e disse "oi". Pérola manteve a seriedade e perguntou: — Qual o seu nome? — Klaus! — respondeu ele. Pérola procurou na lista, verificou e colocou uma pulseira no braço dele. Ele segurou sua mão e disse: — Queria me desculpar com você! — Imagina, eu estava tendo um dia ruim apenas. Boa festa! — respondeu Pérola, tentando ser cordial. Ele entrou, mas logo voltou e perguntou seu nome. — Pérola — respondeu ela. — Vamos reiniciar? Prazer, Pérola, sou o Klaus! — disse ele, educadamente.Salete cuidava de Miguel, que ainda estava enjoadinho e choramingava muito. Pérola tomou banho e pôs a roupa para lavar, um hábito que sua mãe a ensinara após um velório. Klaus foi para o banho logo em seguida. Pérola pegou Miguel e deitou-se na cama com ele, colocando desenhos com música para distraí-lo com as cores vibrantes. Ela estava exausta, lutando para não adormecer. Klaus saiu do banho e deitou-se ao lado deles. Pérola estava virada de lado, observando os dois, enquanto Klaus também se deitou de lado, fitando Miguel no meio deles. Ele começou a pegar na pequena mão do bebê e a conversar com ele, perguntando se estava gostando dos desenhos, se queria dormir ou mamar. Miguel, com apenas seis meses, ouvia e ria. Pérola disse a Klaus:— Poderia ser o nosso filho, não é?— Poderia, mas não é — respondeu ele.— E se a gente tentar ficar com ele? Adotar? — sugeriu Pérola.— Não existe mais "a gente", terminamos, esqueceu? — respondeu Klaus, sério.Pérola ficou chateada e retrucou: —
Encostaram no carro um ao lado do outro, e Denis respondeu: — Não sei por onde começar, olha aonde eu vim parar.— Já se foram dez minutos e aí? — respondeu Pérola.Ele respondeu olhando para frente e não para ela: — Pérola, quando te vi pela primeira vez achei que você era uma qualquer, uma menina comum, mais uma das aventuras do Klaus, claro muito linda, mas nada demais. Quando fui te conhecendo melhor vi que você era diferente, especial, fiquei fascinado por você cada vez mais. Eu sabia que ele iria te decepcionar e esperei. Quando consegui conquistar sua amizade vi o quanto você estava magoada e tudo o que eu queria era cuidar de você. Errei quando o Klaus voltou, vocês começaram a namorar, eu não podia fazer nada, também voltei com a minha ex, mas eu só pensava em você, todos os dias eu pensava em você, te desejava e tinha que ver você com ele e me conformar.— Denis, não importa, tudo ficou para trás, você teve a sua chance e a desperdiçou. Me machucou demais! — respondeu Pérola
Denis estava agitado e o pouco que olhou para Pérola estava sério. Daiane foi até ela e falou:— Me dá o Miguel.Ela tomou o menino dos braços de Pérola e foi para dentro nervosa, sem falar nada. Pérola foi atrás dela e a pegou discutindo com o marido. Ouviu ele falando coisas como: "Você me garantiu que isso não ia acontecer / Cala a boca, Daiane". Eles estavam na cozinha quando a viram, e ele falou para Pérola mandar todo mundo embora. Ela perguntou o que estava acontecendo, e o marido de Daiane respondeu saindo da cozinha:— Conta para sua grande amiga, Daiane, quem sabe ela para de ser boba e vê a boa amiga que você é.Pérola olhou para Daiane tipo "fala logo", e ela começou a chorar e falou:— Pérola, eu achei que não ia precisar falar nada. Eu não sabia o que fazer e te considero muito, você é a minha comadre agora.Pérola se aproximou e respondeu: — Calma, vai, me conta o que tá acontecendo.Daiane a chamou para ir no quarto, fechou a porta, colocou Miguel no berço, sentaram na cama,
— Não vou parar, de jeito nenhum — respondeu Pérola, perguntando se ele queria compartilhar a novidade com Marcelo. Klaus disse que não sabia ainda, depois falou que não, porque ele não era da família mesmo. Pérola estava com dois meses, começando o pré-natal. Salete foi em casa sem aviso prévio, algo que nunca tinha feito antes. Pérola estava sozinha. Ela chegou inquieta, abatida, e Pérola estranhou a visita. Sentaram na sala, que já estava toda mobiliada, e Salete começou a chorar e falou:— Preciso conversar com alguém de confiança, você tem que me prometer que não vai falar nada a ninguém.Pérola ficou nervosa, confusa e prometeu. Então Salete contou que estava doente novamente e muito preocupada, aguardando resultados da biópsia. Fez tudo escondido deles, disse que estava passando mal há meses e escondendo de Klaus para não preocupá-lo. Pérola ficou muito triste, chorou com ela e ficou pensando em como ia esconder aquilo dele. Foi difícil, mas não falou nada, porque Salete confio
Salete a chamou para conversar e pediu para Pérola simplesmente abrir mão de Klaus por causa do relacionamento dele com Denis. Pérola ficou pasma, não estava acreditando naquilo tudo, respirou fundo e respondeu:— Então você acha que devo abrir mão do Klaus porque o Denis, meu ex abusivo, pode se incomodar? É isso?Salete respondeu: — Pérola, você está sendo egoísta, o Klaus só tem eu e o irmão, ele não aceita o pai de forma alguma, se acontecer algo comigo e eu vier a faltar, não quero que meu filho fique sozinho sem família por causa de uma namoradinha à toa. Sejamos sinceras, você não foi muito correta com ele, vi meu filho chorar, se fechar até para mim, sofrendo por você, não vou voltar ao passado agora, o tempo passou, mas eu não esqueci, peço para que considere meu pedido e coloque um ponto final nisso enquanto é cedo. O Klaus já passou por muita coisa difícil, ele não merece ficar sofrendo com esse tipo de coisa! E por favor, não vá encher a cabeça dele contra mim de novo. Eu
Pérola saiu e ficou olhando pela janela esperando ele. Viu que ele saiu do caixa e passou em uma mesa. Tinha umas oito pessoas, e ela reconheceu alguns, eram amigos dele e de Denis, e junto estava a ex-namorada de Klaus. Pérola ficou bolada, cheia de raiva. Quando ele saiu, ela já falou:— Tá com pressa por quê? Tá querendo me esconder dos seus amigos?Ele ficou sem jeito e respondeu: — Não, nada a ver.Pérola começou a falar brava: — Você tá me achando com cara de idiota, não é? Ficar comigo, dormir na minha casa, tudo bem, mas ser visto comigo, ahh não pode.Ele fechou a cara e disse que ela não mudava, sempre com sete pedras na mão agindo na defensiva. Pérola respondeu: — A gente não tem nada, beleza, eu não preciso passar por isso. Pode ir embora que vou sozinha!Ele deu as costas e foi embora mesmo. Pérola pediu um carro no aplicativo, virada no giraia, queria brigar com qualquer um só para descontar a raiva. Ele lhe mandou uma mensagem perguntando se ela tinha chegado bem, ela não re
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