Capítulo 6

Depois da mensagem de Klaus, Pérola foi dormir, exausta e com os pés doendo. Como não trabalharia no domingo, dormiu bastante, aproveitando para descansar até tarde. Já era hora do almoço quando sua mãe a chamou:

— Pérola, filha, levanta, está na hora de almoçar! Pelo jeito, a noite foi boa, hein?!

Pérola se levantou, dizendo que estava exausta da semana. Escovou os dentes, lavou o rosto e foi para a cozinha almoçar. Sua mãe preparou seu prato e encheu seu copo de suco, logo perguntando, como quem não queria nada:

— Como foi a noite, filha? Tudo bem? Esse rapaz te tratou bem?

Pérola respondeu, enchendo a boca para disfarçar:

— Sim, mãe, tudo muito bem. Fomos a uma balada, fica a uns 40 minutos daqui.

Sua mãe perguntou se se divertiram, e Pérola respondeu:

— Foi bem legal, depois fomos comer um lanche. Meus pés estão me matando hoje, por causa do salto alto.

Então sua mãe falou, exultante:

— Sabe, filha, tome muito cuidado! Tem muitas pessoas que querem se aproveitar das outras! Você é uma moça jovem, que chama a atenção, pois é muito bonita, uma joia rara. Cuidado, filha, não quero te ver sofrendo jamais... Quanto mais velha você fica, mais eu me preocupo, princesa!

Pérola prestou atenção em tudo o que sua mãe falou e respondeu, segurando a mão dela:

— Sim, mãe, a senhora está certa! Mas pode ficar tranquila, eu não vou deixar ninguém se aproveitar de mim! Eu não sou mais uma menininha.

Almoçaram, e logo chegou uma mensagem de Klaus. Ele perguntou se estava tudo bem, e Pérola disse que sim. Ele falou que gostou de sair com ela, que queria sair mais vezes e perguntou se ela tinha gostado da noite. Sendo um pouco falsa e fria, Pérola respondeu que sim, que gostou. *Uuuuuu, gostei, foi um porre*, pensou ela. Enfim, não tocou no assunto do beijo que a menina deu nele nem falou das meninas que estavam dando em cima dele; não queria parecer chata. Logo ele mandou outra mensagem, dizendo que queria vê-la de novo em breve. Pérola respondeu que iriam conversando; ela não estava a fim. Aqueles ambientes de gente metida, e ele mesmo se achando o rei da balada, a irritavam. Ela ficou decepcionada com a noite.

Na segunda-feira, Pérola levantou bem cedo e foi para o hospital. Tudo estava indo muito bem, cumpriu seu plantão e depois foi para a loja. Estava apressada, com fome e sem dinheiro para comprar um salgado, então comeu apenas uma banana que levou de casa. Chegou à loja exausta, seu plantão tinha sido um pouco corrido, mas tudo bem, ela sabia o preço do seu esforço. Estava atendendo uma senhora quando olhou para a porta e viu a doutora Salete entrando, lindíssima, salto alto, cabelo impecável, vestido longo de madame. Salete estava olhando algumas bolsas enquanto nenhuma das outras meninas ia atendê-la. Pérola estava terminando com sua cliente, torcendo para que ela pedisse mais coisas, pois não queria atender a doutora, mas pelo visto só ela estava finalizando o atendimento. Levou a senhora até o caixa e em seguida foi até Salete, falando profissionalmente:

— Olá, boa tarde, tudo bom? Em que posso ajudar?

Salete respondeu ríspida:

— Boa tarde, Pérola! Em nada, se eu precisar, chamo outra vendedora.

Pérola disse apreensiva:

— Olha, doutora, infelizmente todas as outras estão ocupadas, mas fique à vontade!

Salete respondeu com arrogância:

— Então quero a gerente, peça para ela me atender! Não quero ser atendida por alguém como você. Já basta ter que trabalhar com você e sua arrogância no hospital, agora aqui, não, não. Estou de ótimo humor, não vou estragá-lo com você, menina.

Pérola olhou para ela, sorriu e disse, afrontando:

— Só estou fazendo o meu trabalho. Estou aqui para isso!

Salete respondeu com deboche:

— Não, não quero você me atendendo, chame a gerente agora, ou eu mesma irei chamar. Sou cliente aqui há muito tempo!

Pérola ficou super irritada; Salete a tirava do sério com aquele jeito racista, toda preconceituosa e metida a rainha. Foi até sua gerente, relatou o ocorrido, e a gerente foi até a doutora para atendê-la. Pérola confessou que ficou com muita raiva da situação e com muito medo. No final do expediente, enquanto se trocava para ir embora, sua gerente foi conversar com ela e pediu para que evitasse aquele tipo de conflito com cliente, porque era o cliente que pagava o salário delas, blá blá blá. Pérola ficou mais arrasada, pois estava certa. Terminou de arrumar suas coisas só pensando no dia em que pediria a conta e sairia daquele lugar. Seu celular começou a tocar; era Klaus. Ela rejeitou duas chamadas, com raiva dele também. Na terceira vez, atendeu. Ele perguntou como ela estava, e Pérola disse que bem. Ele pediu para vê-la, a chamou para dar uma volta na praia e comer algo. Ela disse que não queria, que estava cansada e só queria ir para casa logo, porque o dia foi exaustivo. Ele disse que já estava lá fora esperando e a levaria embora então. Como Pérola não queria sair, ele praticamente não lhe deu escolha. Foi ao encontro dele de saco cheio, entrou no carro e só disse oi. Beijaram-se no rosto, e ele falou:

— E aí, tudo bem? Não me parece bem! Você é difícil mesmo, hein...

Pérola respondeu:

— Tudo indo e você? Não estou fazendo doce, não, é que realmente não estou a fim de sair. Estou muito cansada de verdade, minha rotina está acabando comigo.

Ele respondeu, segurando sua mão:

— Você parece triste, Pérola, aconteceu algo?

Ela não queria falar para ele sobre o ocorrido, então respondeu:

— Não, não, só estou muito cansada, preciso descansar.

Ele sabia que era mentira e logo mudou de assunto. Conversaram sobre política, músicas e shows. Pérola falou muito pouco. Ele a deixou em casa, deu um abraço, um selinho e falou:

— Pérola, pode contar comigo, se precisar de alguma coisa ou quiser sair para conversar, me liga... Eu sou ótimo ouvinte!

Aquilo deixou Pérola com vontade de ficar mais com ele. Sei lá, achou que ficaria aliviada em conversar, já que não ia falar nada para sua mãe; ela nunca contava coisas ruins para a mãe. Estava tão carente, precisando de alguém, e Klaus a tratando bem a deixava bem balançada, querendo mais e ao mesmo tempo com um pé atrás por tudo, por serem tão diferentes. Pérola ficava pensando que ninguém era perfeito, tentando justificar para si mesma os erros dele.

Não se viram por dias, e trocaram apenas algumas mensagens. Dias depois, Pérola foi para o hospital normalmente. Sua chefe a chamou, dizendo que a doutora Salete a estava esperando. Pérola foi até ela com medo e apreensão. Salete disse rude como sempre:

— Bom dia, Pérola! Hoje você vai trabalhar comigo, infelizmente, pois uma aluna minha está de atestado, mas não pense você que vai ser moleza! É bom você fazer tudo certo, sempre digo, gente como você não serve para trabalhar comigo! Mas já que não tenho outra escolha...

Pérola olhou bem séria para ela e falou:

— Gente como eu?

Salete respondeu debochada:

— Menina, se coloque no seu lugar e faça o seu trabalho. Não me incomode!

Pérola respondeu, virada no giraia:

— Olha, doutora, se você não gosta de mim, tudo bem, a senhora não é obrigada a gostar, apesar de não ter motivos. Qual o seu problema comigo? É por causa da cor da minha pele!? É porque sou pobre?

Salete respondeu rindo bem afrontosa:

— É bom você parar por aí, Pérola querida, cuidado com as suas palavras.

Pérola respondeu:

— Eu não tenho berço de ouro como a senhora, nunca recebi nada de mãos beijadas na vida, dei o meu melhor para conseguir chegar onde cheguei, fiz tudo certo para poder estar aqui. Não sou dondoca, moro em comunidade, mas isso não me faz ser menos do que você ou ninguém aqui. Sou negra e tenho orgulho disso. Não cheguei aqui sorrindo e abaixando a cabeça para ninguém!

Salete então disse:

— Pérola, você me respeite, não esqueça que posso te tirar daqui quando eu quiser. Gente como você deveria era estar limpando banheiro. Você parece um bicho me atacando, mal educada, violenta, se você continuar assim, está fora. Parece uma maluca inventando coisas!

Salete saiu, e Pérola foi para o banheiro, começou a chorar, tentou engolir aquilo tudo, mas não descia. Ficou se perguntando como alguém podia ser daquele jeito, maldosa, preconceituosa, tão arrogante, se divertindo em acabar com a autoestima das pessoas por capricho. Ela não queria ficar perto de Salete, mas voltou e foi trabalhar, não via a hora de acabar seu plantão. Salete disse debochada:

— Se acalmou, Pérola querida? Você vai ficar comigo hoje, acho melhor mudar essa cara.

Pérola ficou com a mesma cara de bosta o tempo todo e começou a cogitar a ideia de trancar a faculdade, parar tudo; aquilo estava lhe fazendo muito mal, parecia que aquilo não era para ela, que tinha chegado ao seu limite. Ficou abatida o resto do dia, por sorte Salete não a xingou mais. Quando chegou em casa à noite, começou a trocar mensagens com Klaus, nada demais. Ele perguntou como foi seu dia, como ela estava, falou que queria muito vê-la. Conversaram bastante e combinaram de sair no dia seguinte; era feriado e Pérola não ia fazer nada o dia todo. Combinaram de ir à praia, e ela escolheu qual.

Sua mãe foi trabalhar; ela era diarista e babá folguista, então feriados eram ótimos para ela ganhar um extra. Pérola estava sozinha em casa. Klaus chegou para buscá-la, ela saiu para atendê-lo, trocaram um selinho, e ela perguntou se ele queria entrar. Ele disse que não. Pérola pegou a bolsa e foram para a praia. Chegando lá, ela colocou uma canga para sentarem, ele comprou suco e uma porção, tirou a camiseta e pediu para que ela passasse protetor solar nele, naquele corpo sarado e definido. Pérola sentiu até vergonha disso. Logo começaram a ficar, trocando uns beijos, e ele foi carinhoso e atencioso, passou protetor nas costas dela e apalpou seu bumbum um pouco sutilmente. Pérola ficou de biquíni, e ele não soube nem disfarçar, devorando-a com os olhos. Conversaram como sempre, curtiram bastante a manhã toda, riram das pessoas, ele levou cartas para jogarem, e Pérola sentiu uma química maior entre eles, achou-o mais espontâneo. Almoçaram juntos em um restaurante à beira-mar, e depois foram para casa; ele disse que tinha um compromisso e que, infelizmente, precisaria deixá-la. Se viram mais três vezes nos dias seguintes: um dia só para ficarem e darem uns beijos, coisa de uma hora no carro; nos outros dias, ele a buscou no trabalho, e um dia foram lanchar à noite. A cada dia que passava, Klaus a cativava mais, começou a agir mais naturalmente e confessou que não gostava de algumas coisas e que fingia para agradá-la. Debatiam sobre filmes e notícias, não era para ser divertido, mas era, e ficaram vendo vídeos nojentos no celular sobre medicina e outras coisas. Na primeira vez que Pérola viu um vídeo forte até o fim, ele lhe deu um beijo e falou:

— Onde você estava escondida? Eu nunca achei ninguém que tivesse coragem de assistir comigo.

Pérola respondeu rindo:

— E eu não tinha coragem de confessar que gosto. É para meus estudos, entende?

Ele disse com maldade que ainda ia lhe dar muitas aulas sobre o corpo humano, às vezes falava algo assim brincando com duplo sentido, e ela levava na esportiva. Ele a tratava bem, sempre educado e carinhoso, e Pérola confessou que estava gostando até demais e sabia disso. Ficou mais fácil tolerar os problemas no trabalho, e enfim parecia que tudo estava se encaixando e fluindo bem. Ela estava criando um certo carinho por ele, mesmo sabendo que tinham tudo para não dar certo. Quase não tinha tempo livre, mas os dias foram se passando e os dois conversavam todos os dias. Pérola já acordava esperando a mensagem dele, ou mandando ela mesma. Às vezes se encontravam no meio da semana, mesmo que rápido, uma carona, muitos beijos. Ficaram um sábado, e nos outros finais de semana não deu certo; ele saiu com os amigos dele. Pérola ficou de boa porque, apesar de estar se apaixonando e curtindo muito, não era ciumenta nem se achava dona dele. Falavam que era um lance e só isso, uma coisa casual, sem compromisso, sem obrigação, uma amizade colorida. Ela não queria admitir, por medo, que estava muito envolvida. Cerca de dois meses mais ou menos ficando aleatoriamente, Pérola o chamou para sair, disse que queria ir a alguma festa ou balada. Ela nunca chamava, só aceitava. Ele gostou da ideia, ficou animado, marcaram para um sábado, e naquela semana ficaram sem se encontrar todos os dias.

No sábado, Pérola colocou um vestido curtinho branco, um sapato de salto preto e se arrumou toda para impressionar, para desfilar como o "chaveirinho" dele. Já havia notado que chamavam muita atenção juntos, talvez por ele ser loiro de olhos claros e ela negra. Quando ele chegou para buscá-la, já deram aquele beijão, um abraço gostoso, e ele falou:

— Oi, Pérola, você está linda, que saudade do seu cheiro, de você. Essa semana foi difícil, hein? Olha, eu trouxe uma coisa e você não pode falar que não pode aceitar!

Pérola perguntou o que era, e ele lhe deu o perfume que havia comprado com ela meses atrás.

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