Era sábado. E pela primeira vez em meses, não havia reuniões, ameaças ou olhares duvidosos cruzando o portão da mansão Marchesi.A casa estava silenciosa, exceto por um som suave vindo da cozinha. Dante, com a camisa branca parcialmente desabotoada e o cabelo um pouco bagunçado, equilibrava uma frigideira com uma mão e o bebê no canguru preso ao peito.— Nós vamos fazer panquecas pro café da manhã da mamãe, sim senhor. Mas você tem que me ajudar a não deixar queimar— murmurava para Villano, que, aos dois meses, observava tudo com olhos atentos e redondos.Unirian apareceu na porta da cozinha com um sorriso sonolento e o roupão amarrado preguiçosamente. Ao ver os dois juntos — pai e filho em plena harmonia — ela apoiou-se no batente da porta, sentindo o peito apertado de amor.— Esse é o homem mais perigoso da Itália fazendo panquecas de ursinho com um bebê amarrado ao peito. Isso precisa ser registrado.Dante olhou para trás e sorriu, aquele sorriso raro, que só ela conhecia.— Shhh,
— Me promete… que vai voltar. Que vai lutar por isso aqui. Por nós.— Eu morreria por isso aqui, Unirian. Por vocês. Mas não hoje. Hoje, eu vou viver. Pra voltar.Eles se abraçaram forte. Ele a beijou demoradamente, como se cada segundo pudesse ser o último.Quando soltou, olhou para o berço.— Se ele acordar, diz que o papai volta logo. E que eu amo ele mais do que minha própria alma.Unirian apenas assentiu com lágrimas nos olhos.Na porta, antes de sair, Dante virou-se uma última vez. Olhou para os dois amores da sua vida e disse com firmeza:— Eles não sabem com quem mexeram. E vão pagar. Mas primeiro… eu volto. Pra vocês.E então, desapareceu na escuridão da madrugada, deixando para trás o perfume suave de lavanda da casa… e o coração da mulher que, mesmo acostumada com guerras, nunca se acostumaria com o vazio que Dante deixava.O carro seguia silencioso pela estrada escura. A cidade ainda dormia, mas na mente de Dante, o mundo inteiro estava em ruínas. A ausência do toque del
A chuva escorria pelas vielas de Marselha, apagando pegadas, lavando o cheiro de pólvora, mas não o sangue. Dante descia silenciosamente de um telhado, vestindo um sobretudo escuro, a expressão dura como pedra. A missão era clara: encontrar o assassino do aliado do Clã Marchesi, torturado e exposto como um recado. Mas para Dante, havia mais. Aquilo era uma caçada pessoal. Um nome surgia nas sombras: Romanov. Ao redor, só ecos e olhares atravessados. A máfia russa era traiçoeira. Dante caminhava como um fantasma, seus olhos sempre atentos. Um dos seus homens se aproximou, entregando um envelope. — Encontramos um dos envolvidos. Mas… ele disse que "o presente real ainda está a caminho". O coração de Dante parou por um segundo. Um pressentimento gélido atravessou sua espinha. “Eles estão mirando nela?” Ele fechou os olhos. Respirou fundo. Queria voltar. Agora. Unirian estava sentada no sofá, Villano dormindo tranquilamente no moisés ao lado. O dia estava estranho… calmo demais.
Foram dois dias sem dormir. Unirian andava pela casa como um espectro — olhos vermelhos, mas secos. A ausência de Dante era um eco constante em cada parede. Cada camisa que ainda exalava seu cheiro. Cada canto onde ele estivera. Mas ela se recusava a aceitar. Algo dentro dela gritava: ele não se foi. Até que, numa manhã nublada, a campainha tocou. Dois homens da polícia estavam à porta, e traziam consigo o peso de uma verdade amarga. — Senhora Marchesi —um dos oficiais disse, com voz baixa. — Encontramos um corpo. Não está em boas condições, mas... alguns itens estavam com ele. Precisamos que a senhora o reconheça. Petrov e Ricci se colocaram imediatamente ao lado dela. — Ela não precisa passar por isso.— Ricci disse, firme. — Mas eu quero.— Unirian respondeu, sua voz firme, mesmo que sua alma tremesse. O ambiente era gélido. Não apenas pelo frio dos azulejos, mas pelo peso da morte que impregnava o lugar. O lençol branco foi puxado. O rosto... era quase irreconhecível. As qu
Unirian olhou para o filho, depois para a casa, como se estivesse se despedindo de um santuário. E então, com os olhos cheios, murmurou:— Se é o que ele mandaria vocês fazerem... vamos.A mansão Marchesi na Rússia era como uma fortaleza. Aliados poderosos, como Sokolov, Morozov e Vasiliev, já sabiam da chegada de Unirian. Mesmo com os Romanov por perto, o Clã de Dante ainda era a força dominante, e todos juraram fidelidade à família Marchesi... e agora, à viúva silenciosa que carregava o nome dele.Quando chegaram à mansão, Unirian desceu do carro com Villano nos braços. O frio russo tocava sua pele, mas havia um estranho conforto no ar — a presença de Dante parecia impregnar as paredes daquele lugar também.Jay caminhou ao lado dela, e Ricci e Petrov se posicionaram como guardiões silenciosos, atentos a qualquer movimento suspeito.E antes de entrar, Unirian parou, olhou para o céu nublado e sussurrou:— Eu vim porque acredito que você ainda está respirando em algum lugar, Dante. E
O clima na mansão Marchesi, situada agora nas frias terras russas, parecia congelar ainda mais com a chegada inesperada de Dmitri Romanov, o temido herdeiro da família rival, trajado com seu típico sobretudo escuro e um sorriso cortante como lâmina.Os portões não se abriram com gentileza. Ricci e Petrov estavam postados à frente como muralhas vivas, os rostos frios e preparados para barrar a entrada.— Você perdeu o caminho, Romanov?— Petrov falou, seco, com a mão pousada sobre a arma no coldre.— Apenas uma visita cortês,— respondeu Dmitri, com um tom debochado. — Queria oferecer meus pêsames à jovem viúva... pessoalmente.Antes que eles negassem de novo, Unirian surgiu atrás deles, vestida com um casaco longo de lã negra, os cabelos soltos e o olhar gélido.— Deixem-no entrar.— sua voz saiu firme, sem hesitação.Ricci e Petrov hesitaram por um segundo, mas recuaram com relutância. Sokolov, que observava de um canto mais sombrio, ergueu o queixo, atento ao movimento.No grande salão
Maravilhoso! Vamos mergulhar nesse momento cheio de ternura, companheirismo e esperança, com a sombra persistente da obsessão de Dmitri crescendo ao fundo.O sol da manhã atravessava os grandes vitrais da sala principal da mansão, projetando desenhos de luz sobre os tapetes persas e os móveis escuros. O riso de Villano preencheu o espaço, interrompendo a conversa leve entre Sokolov, Morozov, Ricci e Petrov.Unirian estava sentada no sofá com uma xícara de chá, vestindo um robe azul claro e com o cabelo preso de maneira simples, mas graciosa. Seus olhos sempre atentos ao filho, mesmo em meio a tantas vozes.— Ele está ficando mais esperto que o pai.— brincou Sokolov, tomando um gole de vodca logo após o café da manhã, como todo bom russo. — Mais rápido também.Petrov riu baixo.— Mais fofo, com certeza. — respondeu, mas manteve os olhos discretamente vasculhando o entorno. Como sempre.Foi quando Morozov arregalou os olhos e apontou:— Ei… ele está…Todos os olhares se voltaram e viram
Por um breve momento, seus olhos estremeceram. Uma dor aguda, estranha, atravessou seu peito — como se o coração gritasse por algo que o cérebro não reconhecia. Ele levou a mão ao lado esquerdo do peito, sem entender. Respirou fundo, sentindo um peso. Um vazio desconfortável. — Eu... não sei por que, mas... isso... tudo isso me causa uma sensação ruim. Como se... faltasse algo. Unirian chorava em silêncio agora. O rosto vermelho, os olhos marejados. — Faltam pedaços de você. E eles estão comigo. Dmitri assistia de longe, tenso, com um leve sorriso de canto. Aquela dor no peito de Dante era o efeito da memória esquecida — ou, talvez, da verdade tentando encontrar o caminho de volta. Petrov entregou Villano a Ricci e caminhou até Unirian, apoiando a mão no ombro dela, a protegendo. Ricci murmurou ao filho: — Ele vai lembrar, pequeno. Ele só precisa de tempo... ou do cheiro certo. Unirian se virou de costas, sem forças. Dante ficou parado, olhando a família que não cons