A luz da lareira crepita suavemente. Ura está deitada, encolhida no canto do sofá improvisado, com o cobertor até o queixo. Sua expressão está tensa — as cólicas voltaram. Villano a observa de longe, hesitante. — Está pior? — pergunta finalmente. — Argh… tá. Como se uma coisa estivesse me apertando por dentro. — ela diz entre os dentes. Villano fica em silêncio por alguns segundos, como se lutasse com algo dentro de si. Então, sem dizer mais nada, caminha até ela e agacha ao seu lado. Ele ergue o cobertor devagar, com cautela, e coloca a mão sobre o baixo ventre dela. Suas mãos grandes, frias de início, logo começam a aquecer. Ele massageia com cuidado, em movimentos circulares e lentos. Ura o observa, surpresa. Mas logo seus olhos vão se fechando, aliviados. — Onde você aprendeu isso...? — pergunta num sussurro. — Meu pai... fazia isso com minha mãe. Quando eu era pequeno. — responde, quase engolindo as palavras. — Então você lembra dela? Ele para por um segundo, a mã
Villano não respondeu. — Tudo bem, 007. Só queria saber se estou ao lado de um espião ou de um serial killer com senso de moda. Ainda sem tirar os olhos do espelho, ele falou com firmeza: — Estão nos seguindo. — O quê?! Villano girou o corpo e viu o SUV preto a uns 300 metros atrás, se aproximando com velocidade. Olhou para ela com intensidade. — Você sabe dirigir? Ura arregalou os olhos, segurando firme o volante. — O quê? Agora? Aqui? Com eles atrás? — balançou a cabeça desesperada. — Não sei nem estacionar direito! — Você não precisa estacionar. Só acelerar. — disse ele, já soltando o cinto. Com agilidade, os dois se moveram desajeitadamente dentro do carro em movimento. Ura se esgueirou para o banco do motorista, com as pernas tremendo, enquanto Villano se acomodava no banco do passageiro, puxando uma maleta negra do chão. Enquanto ela tomava o controle, tentando manter o carro na estrada, Villano começou a montar uma arma com calma cirúrgica. Cada peça s
O elevador subiu até o último andar. As luzes internas refletiam nos olhos de Villano, calmo como sempre. Ura, ao lado, olhava em volta com curiosidade. Quando as portas se abriram, seus olhos se arregalaram.— Uau…O novo esconderijo era um apartamento moderno, espaçoso, paredes de vidro que exibiam Moscou em todo seu esplendor. Mesmo estando nos Estados Unidos. Móveis minimalistas, tons escuros e um leve aroma de madeira cara no ar. Não era o lugar de um criminoso comum. Era a toca de um lobo treinado.— É mais bonito do que imaginei. — Ura murmurou, sem saber se estava aliviada ou mais assustada.Villano não respondeu. Apenas guiou-a silenciosamente até uma cadeira robusta no centro da sala.— Senta. — disse, com firmeza.— O quê? De novo não! — ela protestou, mas não teve escolha.Em segundos, estava outra vez amarrada. As mãos firmes dele enrolavam as cordas com calma assustadora. O olhar dele era escuro, calculista, como se estivesse pronto para um novo tipo de interrogatório.—
Villano se ergueu, tenso. — Fala. Orlov ergueu o tablet e projetou a tela na TV do apartamento. Arquivos confidenciais, selos do governo americano, imagens borradas. E, ao centro, uma ficha com o nome completo: — Ura Kim Greystone; Data de nascimento: [CONFIDENCIAL] Nacionalidade: Americana, Profissão: Artista plástica – codinome: Aurum; Filiação: Thomas Greystone (Chefe do Cofre de Estado Americano) e Claire Kim Greystone, Advogada constitucional. Villano estreitou os olhos. — Greystone? Orlov assentiu. — O pai dela é o homem que guarda os maiores códigos, arquivos e segredos do governo. Estamos falando de alguém com acesso a sistemas de segurança nuclear, informações de segurança nacional... tudo. Ura desviou o olhar. Não parecia assustada, mas sim… resignada. — Então o nome “Ura” é real? — Villano perguntou. Orlov confirmou: — Sim. O nome verdadeiro é Ura. O sobrenome ela esconde. O que ela não contou é que sua identidade pública como artista é totalmente ocu
O novo esconderijo era diferente. Um loft discreto, nos fundos de uma loja de antiguidades em uma rua esquecida de Nova York. Lá fora, o mundo seguia o caos de sempre. Mas ali dentro, o silêncio era quase sufocante. Villano sentou-se à beira da bancada da cozinha, desmontando e limpando sua arma com precisão mecânica. Os olhos, no entanto, estavam atentos em Ura, que, pela primeira vez, parecia sem palavras. Ela olhava pela janela, os dedos brincando distraídos com a manga do moletom que ele havia lhe dado. Seu rosto mostrava mais do que confusão — era *decepção, medo… mágoa. — Ela sabia, né? — murmurou, sem virar o rosto. — A Letícia… sabia quem eu era esse tempo todo. Orlov, que vasculhava os arquivos no computador, girou a tela para ela. — Mais do que isso, Ura. Ela sempre soube. — Ele ampliou uma imagem: era Letícia ao lado de Vladimir Romanov, o patriarca frio e calculista de uma das máfias Russas, em uma festa de gala antiga. Filha adotiva. Cresceu dentro da máfia. A tu
Houve um silêncio breve do outro lado da linha. Não um silêncio de choque, mas de cálculo. De avaliação. Dante era um homem que ouvia mais do que falava. Quando finalmente respondeu, havia um leve sorriso em sua voz — quase imperceptível, mas lá. — Não precisa me explicar. Está no sangue. Villano não respondeu. Não precisava. Ambos sabiam. — Ela é como a sua mãe, não é? — Dante perguntou, mais como uma afirmação do que uma dúvida. — Você achou a sua Unirian. Villano não sabia como descrever aquilo que sentia por Ura. Ele só sabia que havia algo nela que o fazia não puxar o gatilho... e isso era perigoso. Mas inegável. — Ela ainda não sabe — disse por fim. — Mas eu vou protegê-la. De tudo. — Então faça uma coisa por mim, filho — a voz de Dante engrossou com um peso diferente. — Traga-a um dia. Sua mãe merece conhecer a mulher que domou o demônio. Villano fechou os olhos. Promessas não eram feitas à toa entre eles. — Prometo. Dante sorriu, agora de forma evidente. Como
A madrugada pesava sobre o apartamento como um manto silencioso. O mundo lá fora estava quieto, mas dentro de Villano, o caos era ensurdecedor. Sem fazer um som, ele abriu a porta do quarto dela. A luz da rua entrava pelas frestas da cortina, pintando listras douradas sobre o rosto de Ura, que dormia profundamente, a respiração tranquila, os lábios entreabertos, murmurando algo que ele mal conseguia ouvir. Villano se aproximou devagar. O olhar sério, mas tomado por um desconforto diferente. Como se sua presença ali fosse um erro, mas um erro que ele não conseguia evitar cometer. Ficou parado por um momento aos pés da cama. Depois, como se atraído por algo mais forte que sua vontade, ajoelhou-se ao lado dela. Queria entender. Observar. Sentir… algo. Ela se virou levemente no sono, o rosto virado para ele. — V… — murmurou ela, a voz fraca, sonolenta. — Se casa comigo… por favor. Não me deixa morrer. Villano ficou congelado. Aquelas palavras o atravessaram como uma faca len
Villano estava encostado na bancada da cozinha, limpando sua arma com calma quase meditativa. Orlov observava pela janela, o cigarro apagado nos dedos. O silêncio era denso, até que V falou, sem tirar os olhos da arma. — Prepare suas coisas. Vamos ficar um tempo na Rússia. Orlov virou-se devagar. — Rússia? Tá falando sério? Villano assentiu. — Vladimir Romanov tá fazendo movimentos demais nos bastidores. Quero ver de perto. Sentir o terreno. — E ela? — Orlov perguntou, indicando com o queixo o quarto onde Ura dormia. Villano demorou alguns segundos, como se pensasse em mil possibilidades. Depois respondeu: — Vai com a gente. O casamento… vai acontecer lá. Orlov ergue as sobrancelhas, surpreso. — Casamento russo? Você quer mesmo que ela passe por isso? Villano não respondeu de imediato. Apenas limpou a lâmina com precisão. — Aqui o pai dela descobriria. Interromperia tudo antes mesmo de começarmos. Na Rússia… é nosso território. Ele não vai tocar nela lá. Na m