Angel
Segurei as pontas do meu casaco um pouco mais firme enquanto caminhava pelo corredor, em direção ao quarto de Raul. Desta vez, a porta estava entreaberta, e quando bati levemente, ouvi uma voz rouca responder:
—Entre.
Os olhos abertos, fixos no teto branco do quarto hospitalar, não tinham mais aquele brilho alucinado da primeira vez que nos encontramos. Ainda havia marcas no rosto, cansaço profundo, mas também... lucidez.
—Você veio, — ele disse, como se duvidasse.
—Disse que viria. — Sentei na cadeira ao lado da cama, estudando-o.
A barba por fazer, os dedos inquietos sobre os lençóis. Era estranho ver Raul assim, sem a postura firme de sempre.
— Trouxe isso pra você. — estendi uma garrafa térmica pequena. — Chá de camomila. Nem vem fazer careta, eu vi seu prontuário. Café e você estão em guerra agora.
Ele riu. Riu de verdade.
— Parece que você puxou essa implicância da sua mãe. Ela também enchia o saco com essas coisas.
— Bom, eu puxei mais coisas dela. Algumas boas, outras…