O frio ainda estava colado na minha pele quando entrei pela porta dos fundos. Tirei o casaco devagar, como se cada movimento precisasse de esforço. A casa estava silenciosa, o cheiro de café pairando no ar como um sussurro morno. Por um instante, pensei que estivesse sozinha.
— Se perdeu, no jardim, irmã Laura?
A voz cortou o silêncio como uma lâmina afiada. Olhei em direção à cozinha. Luka estava ali, encostado no balcão, uma caneca nas mãos e os olhos tão escuros quanto o dia lá fora. Vestia preto da cabeça aos pés, como sempre. Só o vapor do café quebrava um pouco a rigidez da imagem.
A forma que ele falou irmã Laura, não era de um jeito carinhoso ou sensível. Parecia mais que ele queria cuspir sobre a palavra.
— Só precisava de ar — respondi, tentando manter o tom neutro. Mas meu corpo ainda tremia, por dentro e por fora. Talvez ele notasse.
Luka me observava como quem desmonta um relógio para entender o mecanismo. Devagar. Minucioso. Incômodo.
— Ah, hum. — Ele girou a can