O jipe da paróquia era velho, barulhento e cheirava a couro molhado. Ele já me esperava ao volante, com o capuz do casaco abaixado e o cabelo escuro levemente úmido. Os olhos cinzentos me fitaram por apenas um segundo — e isso bastou para que meu estômago revirasse.
— Bom dia, irmã — disse ele, com aquele sotaque leve, difícil de identificar, mas que me parecia mais europeu que qualquer outra coisa.
— Bom dia, padre Andrei.
Entrei no carro e puxei a porta com força, sentindo o estalo de metal velho encaixando no lugar. Ele arrancou com cuidado, e por um tempo o único som entre nós foi o da chuva tamborilando no capô e o motor cansado.
— Espero que não esteja desconfortável com essa missão improvisada — ele disse, mantendo os olhos na estrada. — Prometo dirigir devagar.
— Está tudo bem. Faz parte da nossa rotina… improvisar quando Deus quer nos ensinar algo.
Ele soltou uma risada baixa, quase imperceptível.
— Ou talvez Ele só esteja testando nossa paciência.
Sorri, sem graça.