Milagre

Meu sangue pareceu gelar dentro do corpo. Minha pele queimou. Eu o encarei, sentindo minhas bochechas arderem.

— Como assim tocou em mim?

Ele não piscou.

— Você ainda é virgem?

O mundo parou. Minha respiração ficou presa no peito. Meus olhos começaram a lacrimejar, mas não de emoção. Era vergonha. Era raiva. Era exaustão. Tantas coisas aconteceram. Eu fui levada. Sobrevivi. Vi um homem morrer. Fugi. Menti. Quase enlouqueci.

E tudo o que importava pra ele… era isso? Meu corpo. Meu hímen.

Tive que mentir. De novo.

De novo.

— Sim… eu ainda sou. Ele não me tocou.

Mentira. Duas vezes. Eu perdi minha virgindade antes de ser freira. E depois… depois teve Alexey. A Rússia. A febre. Os lençóis. Os gemidos abafados contra o peito dele. E tudo o que isso significou.

Meu pai ficou calado por longos segundos. Depois levantou, sem dizer mais nada. E foi embora. Fiquei ali, sentada, com a pele ainda quente e os olhos secos. E percebi, pela primeira vez, que talvez não fosse mais a casa que
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