Destranquei a porta e empurrei-a com cuidado. O cheiro de papel antigo e madeira tomou conta do ar. Estantes altas preenchiam o espaço, todas alinhadas com pastas, livros e caixas devidamente etiquetadas.
Ele entrou devagar, olhando ao redor com atenção. Cada passo dele era silencioso. Seus olhos corriam pelas etiquetas com velocidade, como se já soubesse o que estava procurando — embora tivesse dito que não buscava nada específico.
Fiquei parada à porta, observando-o. E, mais uma vez, fui tomada por aquela sensação incômoda. Aquilo era só parte das minhas funções. Ser atenciosa. Orientar. Mas então por que me sentia como se estivesse rompendo uma regra silenciosa? Como se tivesse cruzado um limite invisível?
Talvez fosse porque, em algum nível, eu soubesse que a presença dele não era como as outras.
— Se precisar de mais alguma coisa… — falei, querendo encerrar logo aquela visita. — Estarei na biblioteca.
Ele se virou para mim, os olhos cinzentos brilhando sob a luz fraca do lu