Capítulo 5

A claridade da manhã invadiu o quarto antes mesmo de eu abrir os olhos. O cantar dos galos ecoava ao longe, acompanhado pelo mugido baixo de algumas vacas. Amber respirava profundamente ao meu lado, abraçada ao seu ursinho de pelúcia que nunca largava. A expressão tranquila dela me arrancou um sorriso. Se ao menos meu coração pudesse estar em paz como o dela…

A noite anterior ainda rodava na minha mente. O jantar tinha sido acolhedor, mas também um pouco estranho. O pai de Caleb havia nos recebido com tanta bondade, como se eu fosse parte da família desde sempre. Amber, claro, se encantou logo de cara com ele — a cada sorriso dela, eu sentia que, talvez, ter voltado não fosse uma ideia tão absurda quanto parecia.

Já Caleb… ele era outro assunto. Seu jeito duro e aquele olhar que parecia querer me atravessar sem pedir licença. Por baixo da sua fachada de homem ríspido, eu percebia relances de um menino que eu conheci um dia, meu amigo, meu companheiro de aventuras. Mas ele se escondia tão bem atrás da armadura que era impossível adivinhar se ainda havia algo do Caleb de antes ali dentro.

Levantei devagar, tentando não acordar Amber, e fui até a janela. A paisagem diante de mim era de tirar o fôlego: os campos verdes se estendiam até onde a vista alcançava, cobertos de orvalho que brilhava como diamantes sob o sol nascente. Respirei fundo. Aquele era o meu lar agora. Por mais assustador que fosse, eu precisava aceitar isso.

Vesti o hobby por cima do pijama edesci para começar a preparar o café da manhã com as coisas que tinha comprado no mercado. Pão de forma com um pouco de geleia de morango, café forte e leite com cereais para Amber.

— Mamãe… — Amber murmurou sonolenta ao entrar na cozinha.

— Bom dia, minha princesa — depositei um beijo no topo de sua cabeça enquanto ela se sentava à mesa para comer. — Dormiu bem?

— Sim, mas o galo me acordou.

Acabei rindo com a situação enquanto me servia de uma xícara de café.

— Você vai se acostumar. Faz parte da vida no campo

Estávamos comendo e conversando sobre o sonho que Amber havia tido quando ouvi batidas na porta da frente.

Ao abrir, dei de cara com ele. Caleb estava ali, imponente, chapéu na cabeça e a expressão fechada. O sol da manhã ressaltava as linhas firmes de seu rosto, e por um instante, antes de lembrar de tudo o que me irritava nele, tive que admitir: ele estava ainda mais bonito do que na noite anterior.

— Caleb… — pisquei surpresa. — Qual a reclamação dessa vez?

Ele arqueou uma sobrancelha e tirou o chapéu, coçando a nuca antes de recuperar a postura firme.

— Não é nenhuma reclamação.

— Então o que veio fazer aqui tão cedo?

— Vim porque precisamos falar sobre a fazenda. Precisamos alinhar algumas coisas.

— E desde quando é você que decide o que eu preciso saber sobre a propriedade que é minha?

O maxilar dele enrijeceu.

— Desde que você não tem ideia de como manter esse haras e a fazenda de pé. — disparei, mais duro do que queria. — A Estância não é só um monte de cavalos bonitos e pasto verdinho. Tem contas, dívidas, funcionários que dependem dela.

A raiva me subiu como fogo no peito. Era só o que me faltava, Caleb vir me incomodar logo cedo e achar que não sei nada sobre administrar um negócio.

— Não pense que porque eu passei anos na cidade não sei assumir responsabilidades, também vivi aqui. Eu sei administrar uma empresa, Caleb.

— Vivia correndo atrás de mim para brincar de casinha. — ironizei. — Isso não te preparou para comandar uma fazenda.

O golpe doeu mais do que eu gostaria de admitir, mas não deixei transparecer.

— Então é isso que pensa de mim? — perguntei firme. — Ótimo. Continue cuidando do seu gado e do seu cavalo, que eu cuido da minha casa.

Bati a porta antes que ele pudesse falar mais alguma coisa. Já tinha perdido totalmente a paciência com ele. Desde quando Caleb tinha ficado tão presunçoso?

Estava com as costas apoiada na porta quando Amber surgiu, segurando seu copo de leite.

— Mamãe? — chamou baixinho, estranhando a tensão.

— Que foi, querida?

— Você estava brigando?

Engoli em seco, forçando um sorriso para não preocupar minha filha.

— Não era uma briga, querida. Era só uma conversa difícil.

Voltamos para a mesa e continuamos tomando nosso café da manhã, apesar de ter perdido um pouco da fome. Mas eu sabia o motivo. Caleb mexia comigo de um jeito que eu não queria admitir. Ele me irritava e provocava, ao mesmo tempo despertava memórias que eu pensei ter enterrado há muito tempo.

Enquanto terminava minha xícara de café já frio, uma certeza se formou dentro de mim: conviver com Caleb seria um desafio muito maior do que administrar qualquer fazenda.

Depois do café, comecei a arrumar a cozinha, ainda remoendo cada palavra dita. A água da torneira batia nos pratos, mas minha mente estava longe, tentando entender porque eu deixava Caleb me atingir tanto. Talvez porque, no fundo, ele tivesse razão em algumas coisas. Eu não conhecia mais o ritmo da fazenda, nem o tanto de dívidas que meu pai tinha acumulado, mas sabia lidar com números e poderia dar um jeito em tudo.

Aproveitei que Amber estava brincando do lado de fora, coloquei uma música para tocar e comecei a dar uma boa faxina na casa, que estava bastante empoeirada, antes do caminhão chegar com as nossas coisas. Respirei aliviada quando a máquina de lavar funcionou, odiaria ter que lavar todas aquelas roupas de cama na mão.

Mais tarde, enquanto estendia roupas no varal, meus olhos se perderam no horizonte. A brisa fazia os lençóis dançarem e o cheiro do campo era quase doce. Ainda assim, nada disso me trazia paz. Eu sabia que aquele embate com Caleb era apenas o primeiro de muitos.

Fiquei tão distraída com a faxina que até me assustei ao ouvir o ronco do caminhão se aproximando. Corri até a varanda e vi que realmente o caminhão de mudança estava estacionando diante da casa. Finalmente, minhas caixas, minha vida empacotada — tudo havia chegado.

Amber veio correndo em minha direção, animada.

— Mamãe! Nossas coisas chegaram!

Os ajudantes começaram a descer as caixas e eu já me preparava para começar a organizar quando, para minha surpresa, Caleb surgiu do nada, cavalgando. Desceu do cavalo com a mesma segurança de sempre e se aproximou.

— Veio inspecionar se eu sei descarregar caixas também? — provoquei, ainda ressentida pelo que tinha acontecido mais cedo.

Ele ignorou a cutucada e passou a mão na aba do chapéu.

— Vim ajudar. São muitas coisas para você sozinha.

— Não preciso da sua ajuda.

— Precisa sim. — respondeu, já pegando uma das caixas pesadas como se fosse nada.

Abri a boca para protestar, mas ele já estava subindo os degraus da varanda com minhas coisas. Amber, parada ao lado, o olhava com admiração.

— Uau, ele é muito forte, mamãe!

Suspirei, sem forças para discutir na frente da minha filha. Fiquei apenas observando enquanto Caleb, com calma e eficiência, organizava o transporte das caixas para dentro da casa, orientando os ajudantes como se fosse o dono da situação.

Parte de mim queria agradecer. Outra parte queria esganá-lo por se meter tanto.

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