A partir daquele segundo, o mundo inteiro desaparece. O som da voz de Sofia some. O burburinho das pessoas, os aplausos, o tilintar das taças... tudo vira um zumbido distante, abafado, como se eu estivesse debaixo d’água, olhando para cima.
Só existe ele.
Seus olhos azuis fixos no meu. Eles não desviam. Não piscam.
E dentro daquele olhar, eu vejo tudo:
A primeira vez que nos vimos; o oral que ganhei naquele beco escuro; o primeiro beijo; o sexo no banheiro da Beck Way.
O casamento; a morte da Joana; o abandono.
A Itália, o reencontro, o chalé, o sexo, a mentira.
A esposa grávida.
A herança que ele quase jogou fora.
Por mim.
— E tudo isso foi graças a ela. — a voz de Sofia se fez presente de novo e eu pisco, olhando para ela. — Letícia Mattos.
Sofia se vira para mim, o microfone na mão, o sorriso largo, genuíno.
— Venha, Letícia — diz ela, em italiano perfeito, a voz ecoando pelo salão. — Vieni qui. Parla con noi.
Os aplausos aumentam.
Calmamente eu caminho até ela. Sofi