Ele parou, como se as palavras fossem pesadas demais para continuar. O silêncio que caiu entre nós era sufocante, o cheiro de bolo e café agora parecendo distante, quase irreal. Percebi que o que ele estava prestes a dizer era sério, mais profundo do que eu podia imaginar. Sem pensar, levantei-me da cadeira e me sentei ao lado dele, minha mão encontrando a dele sobre a mesa, um toque hesitante, mas firme, tentando oferecer algum conforto.
— Marcos... — murmurei, apertando de leve os dedos dele.
Ele olhou para a minha mão sobre a dele, depois para mim, os olhos carregados de dor.
— Eu comecei a trabalhar aos catorze. — começou ele. — Ajudava minha mãe nas praias do Rio, vendendo mate, biscoito, qualquer coisa pra trazer algum dinheiro para casa. Quando fiz vinte e cinco, descobrimos que ela tinha câncer de mama. Gastamos tudo o que tínhamos, todas as economias, para pagar a cirurgia de retirada das mamas. Por uns anos, achamos que o câncer tinha ido embora. Ela estava bem, sabe? A