O som de um jazz suave preenchia minha cobertura. O cheiro de jasmim — minha fragrância favorita, criada no laboratório do Grupo Ayra — pairava no ar e transformava o apartamento em um refúgio secreto.
Eu estava sentada na poltrona de couro branco, girando uma taça de vinho entre os dedos, quando olhei para ele. Zain. Alto, silencioso, encostado na parede como se estivesse à vontade, mas ao mesmo tempo deslocado demais para não chamar atenção.
Não parecia um acompanhante contratado. Não parecia alguém que estivesse ali apenas por dinheiro. Havia confiança demais no olhar dele, firme demais no jeito como me observava.
— Você não fala muito, não é? — perguntei, quebrando o silêncio.
— Só quando é necessário. — A voz era grave, calma, quase desafiadora. — O silêncio costuma chamar mais atenção do que palavras vazias.
Ergui a sobrancelha. — É mesmo? Então, me diga… o que você vê agora?
Ele não desviou os olhos. — Uma mulher que sabe exatamente o que quer.
Sorri de leve. Quantas vezes eu já tinha visto homens tentando me impressionar com discursos ensaiados, promessas ou elogios baratos? Zain não parecia se esforçar. E isso me intrigava ainda mais.
Me levantei da poltrona e caminhei até ele. O salto dos meus sapatos marcava o chão de mármore, cada passo era calculado. Parei diante dele, tão perto que sentia o calor de sua respiração.
— E se eu disser que, por uma noite, não quero ser CEO? — surrurrei. — Não quero pensar em reuniões, contratos, nem no meu pai. Só quero ser… mulher.
Ele não respondeu. Apenas me puxou pela cintura, de um jeito firme e sem hesitar. O beijo aconteceu de repente, como se tivesse sido aguardado por tempo demais. Ele era decidido e os seus lábios eram macios e quentes.
Meu coração disparou. Por alguns minutos não existia nada além daquele toque.
— Você não tem medo de mim? — murmurei, quando finalmente me afastei um pouco para respirar.
Ele sorriu de canto. — Eu deveria?
Não respondi. Ele me ergueu nos braços, e eu deixei. Entreguei o controle que tanto me custava manter no dia a dia.
A noite seguiu entre carícias, olhares e silêncios que diziam mais do que qualquer palavra. Pela primeira vez em muito tempo, eu não estava competindo, nem comandando. Estava apenas vivendo.
Quando acordei, o Sol já clareava o meu quarto. Meu celular vibrava na mesa de cabeceira. Ainda meio sonolenta, esfreguei os olhos e peguei o celular. O nome na tela fez meu estômago gelar: Carlos. Meu pai.
Atendi de imediato. — Pai?
A voz dele veio dura: — Reunião de emergência. Sala do conselho. Agora.
— Mas o que aconteceu?
— Você saberá quando chegar. — Ele desligou.
Olhei para o lado e vi Zain dormindo profundamente, o seu rosto relaxado sendo tocado pela luz do Sol era tão lindo que me dava vontade de ficar admirando o dia todo. Devo admitir que, ele parecia alguém que carregava segredos, mas que, por algumas horas, tinha conseguido se libertar deles.
Suspirei fundo. Parte de mim queria se enroscar de volta nos lençóis, fingir que o mundo podia esperar. Mas não podia. Nunca podia.
Me lavantei e fui até o meu closet, sem pensar muito escolhi vestir meu tailleur preto, coloquei um salto nos pés, prendi meu cabelo em um coque alto e elegante e fiz uma maquiagem rápida. Em minutos, estava pronta. Não como mulher, mas como executiva.
Antes de sair, parei na porta e olhei de novo para ele. Quem era Zain, afinal? Por que parecia mais do que aparentava?
Balançando a cabeça, deixei o quarto. O jogo real começava dali em diante.