Narrado por Leonardo:
O relatório. Aqueles malditos números que deveriam ter sido enviados há horas. Minha irritação estava no limite. Eu andava de um lado para o outro em frente à mesa de Sarah, os músculos do pescoço tensos, a mente fervilhando de estratégias e prazos apertados. Era quase meia-noite, e a adrenalina do dia ainda corria em minhas veias, mas a paciência já havia se esgotado. Ninguém mais na empresa conseguia achar essa droga de relatório, ninguém sabia onde estava, e eu precisava dele para uma reunião crucial no dia seguinte. Por isso, a única opção era ligar para ela. Sarah. A única que realmente entendia a bagunça organizada da minha vida profissional.
Ouvi o barulho do elevador abrindo e me virei, pronto para descarregar a frustração. Mas as palavras morreram na minha garganta.
Lá estava ela. Sarah.
Não a Sarah de sempre, com suas calças de alfaiataria impecáveis e blusas discretas que, embora valorizassem seu corpo esguio, faziam questão de não chamar atenção. Aquela Sarah vestia um vestido vermelho. Um carmesim profundo, que abraçava cada curva de forma... inegável. O tecido parecia deslizar sobre a pele, e os ombros estavam à mostra, revelando uma delicadeza que eu raramente via nela.
Meu olhar desceu. Automaticamente. Do seu rosto pálido e marcado, embora ela tentasse esconder, para o decote sutil, para as pernas longas que o vestido realçava. Merda. O que estava acontecendo? Algo nela estava diferente. Não era apenas a roupa. Havia uma fragilidade, um tremor quase imperceptível em seus lábios, mas ao mesmo tempo, uma fúria silenciosa nos seus olhos verdes, algo que eu nunca tinha visto. Não era a usual irritação contida que ela me lançava quando eu a sobrecarregava. Era algo mais profundo, mais primal.
Ela me cumprimentou, a voz um fio de sussurro. — Boa noite, Senhor Ferrari.
Eu apenas acenei com a cabeça, incapaz de tirar os olhos dela. Minha mente, sempre focada em números e estratégias, estava em pane. O aroma de whisky que eu sentia em mim (cortesia de um dia estressante e uma rápida parada no meu bar) pareceu se misturar ao perfume suave de jasmim que vinha dela, criando uma nuvem intoxicante. Eu podia sentir a tensão no ar, não apenas a minha. Algo a havia perturbado profundamente.
Ela se moveu em direção à sua mesa, os movimentos um pouco mais lentos, mais hesitantes do que o habitual. Eu a observei enquanto ela procurava o relatório, sabendo exatamente onde encontraria, mas a deixando fazer. Parte de mim queria apenas ver aquele corpo se mover. Outra parte, a parte profissional, ainda estava irritada por ter que chamá-la àquela hora.
Quando ela me entregou os documentos, nossos dedos se roçaram. Foi um toque breve, quase acidental, mas um choque elétrico percorreu minha pele. Puta merda. Minha respiração ficou pesada, e meu corpo reagiu. Um calor subiu por mim, e um desejo, que eu vinha reprimindo há anos, ameaçou transbordar. Eu sempre a achei atraente, sim, a inteligência afiada, a forma como ela não abaixava a cabeça para mim. Mas aquele vestido, aquela vulnerabilidade velada... Era um combo perigoso.
Forcei um sorriso, tentando soar casual, mesmo sentindo cada fibra do meu corpo em alerta.
— Não sei o que faria sem você, Sarah — eu disse, minha voz mais rouca do que o esperado. Não era uma bajulação. Era a pura verdade. Ela era indispensável. Mas naquela noite, a frase ganhou um segundo sentido, um peso que eu não pretendia dar.
Me virei, caminhando em direção à porta do meu escritório. Eu precisava de um minuto, precisava me recompor. Minha reputação de "mulherengo" era bem construída, mas Sarah... Sarah nunca foi "apenas mais uma". Ela era o desafio. A inatingível.
Com a mão na maçaneta, parei. Não resisti. Virei apenas o pescoço, meus olhos encontrando os dela. A fúria em seus olhos ainda estava lá, mas algo a mais queimava por trás dela. Uma chama recém-despertada.
— Você fica ainda mais atraente, com esse vestido vermelho — eu disse, minha voz baixando um tom, tornando-se mais íntima, mais sugestiva. Dei uma piscadela lenta, um sorriso cafajeste que costumava derreter qualquer resistência. Eu a estava provocando. Testando. E ela não recuou. Seus olhos apenas brilharam com uma intensidade que me pegou de surpresa.
Abri a porta e entrei, a imagem dela parada ali, no centro do meu escritório, no meu espaço, se gravando na minha mente. Antes de fechar a porta, quase como um pensamento em voz alta, adicionei, sem olhar para ela:
— Deveria usar mais roupas assim, que te valorizam.
Fechei a porta. O som oco da madeira contra o batente ecoou no silêncio do escritório. A imagem dela, naquele vestido vermelho, me perseguia. Que porra estava acontecendo com ela? E mais importante, que porra estava acontecendo comigo? O cheiro de jasmim dela, misturado ao whisky, parecia me intoxicar. A noite prometia ser longa. E não apenas por causa do relatório.