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O Batom Vermelho e a Porta Entreaberta

Narrado por Sarah:

O cheiro de sândalo e jasmim no ar do apartamento de Marcus não era apenas um perfume; era uma promessa. Uma promessa sussurrada em cada batimento do meu coração, amplificada pelo tique-taque nervoso do relógio na parede da sala. Vinte e três anos de vida, e aquela noite seria um marco. A noite da minha entrega. Meu batom vermelho, recém-aplicado, era um convite silencioso, um selo para a decisão que eu tomara. Meu vestido, um vermelho vibrante, quase um carmesim, deslizava suavemente pela minha pele, abraçando minhas curvas de um jeito que eu raramente me permitia no dia a dia. Para Marcus, o homem que eu amava desde a infância, o homem que seria meu marido.

Ele tinha desmarcado o jantar de última hora, com a velha desculpa de "trabalho até mais tarde". Eu conhecia a rotina dele na startup, sabia que eram períodos intensos, mas algo dentro de mim sussurrava para ir. Talvez fosse a intuição feminina, talvez a ansiedade de quem espera demais por um momento. De qualquer forma, a decisão estava tomada: a surpresa seria minha. Cheguei ao seu prédio com o coração batendo descompassado. O porteiro, que já me conhecia bem, sorriu e me liberou sem perguntar. A euforia borbulhava no meu peito, uma mistura de nervosismo e excitação. Subi no elevador, o reflexo no espelho mostrando uma Sarah que eu mal reconhecia – uma mulher em chamas, pronta para amar.

Assim que a porta do elevador se abriu no andar dele, um silêncio estranho me atingiu. Era tarde, sim, mas esperava ver alguma luz acesa na sala, talvez um sinal de que ele realmente estivesse trabalhando. Mas tudo estava escuro, exceto por uma fresta de luz vindo do corredor dos quartos. Estranho. Marcus sempre deixava uma luz acesa.

"Ele deve ter terminado mais cedo", pensei, um sorriso brotando nos meus lábios. A surpresa seria ainda maior.

Entrei devagar, a chave girando suavemente na fechadura. O apartamento estava em penumbra, e meus olhos se ajustavam à escuridão. Dei o primeiro passo, e então, ouvi. Um som abafado. Um gemido. Meu coração, que antes batia de alegria, deu um salto, e não de emoção. Era um som estranho. Íntimo demais para ser televisão. Íntimo demais para ser Marcus sozinho.

Tentei me convencer de que não era nada. "Deve ser o vizinho", eu disse a mim mesma, mas a voz na minha cabeça soava oca. Meus pés se recusaram a se mover em direção ao interruptor da luz. Em vez disso, como em um transe, comecei a subir as escadas que levavam ao andar superior, onde ficavam os quartos. Cada degrau parecia amplificar o som. Os gemidos se tornaram mais altos, mais claros. Eram vozes. Uma feminina, ofegante. Outra masculina, a voz de Marcus.

"Vai... isso, gostosa..."

Meu mundo parou. Meu sangue gelou nas veias, e meus pés se prenderam ao chão no meio da escada. Os sons agora eram inconfundíveis, explícitos. Batidas rítmicas na cama, os gemidos se intensificando, o ar pesado com a urgência de dois corpos. A boca de Marcus, as palavras dele... as mesmas palavras que eu esperava ouvir em meus próprios ouvidos, naquele momento, naquela noite.

A dor começou como uma pontada no peito, rápida e aguda, como se alguém tivesse enfiado uma adaga no meu coração. Minha respiração ficou presa na garganta. Eu queria gritar, queria chorar, queria fugir. Mas meus pés não se mexiam. Uma parte de mim, a mais irracional e masoquista, me impeliu a continuar. Eu precisava ver. Precisava que a verdade fosse tão nua e cruel quanto os sons que chegavam até mim, para que não houvesse mais dúvidas, mais esperança, mais nada.

Com passos lentos, quase arrastados, subi os últimos degraus. O corredor estava escuro, mas a luz da fresta da porta do quarto de Marcus guiava meu caminho para o inferno pessoal. Os gemidos eram agora uma sinfonia obscena, um ruído nauseabundo que preenchia todo o espaço, cada fibra do meu ser. Cheguei à porta. Minha mão estendeu-se, trêmula, até a maçaneta fria. Girei-a devagar, sem fazer o menor ruído, quase como se o mundo inteiro tivesse se calado para testemunhar o que aconteceria a seguir.

A fresta se abriu um pouco mais, e meus olhos encontraram a cena que jamais sairia da minha mente.

Lá estava ele. Marcus. Meu noivo. Nu, na cama que seria nossa, se eu tivesse entrado mais cedo. E em cima dele, cavalgando em seu pau, nua também, estava Gabriela. A ex-namorada dele. Os cabelos ruivos emaranhados, o corpo esguio e sinuoso se movendo em um ritmo frenético. O rosto de Marcus estava enterrado nos seios dela, e ele gemia, incentivando-a, as palavras que ele dizia se cravaram em minha alma como ferro quente:

"Isso, gostosa! Cavalga seu homem!"

O mundo girou. Não ouvi mais nada. Não senti mais nada. Apenas um vazio ensurdecedor, uma dor tão profunda que parecia rasgar minha alma. Meu estômago se revirou, e eu tive que lutar para não vomitar ali mesmo. O batom vermelho em meus lábios, o vestido carmesim, tudo parecia uma piada cruel, um símbolo da minha ingenuidade e da traição que eu acabara de testemunhar.

Eles estavam absortos demais, entregues ao próprio prazer, para notar a porta entreaberta, para notar a noiva parada ali, testemunhando o fim de seu mundo. E, por um segundo, fui grata por isso. Grata por não ter que enfrentar seus olhares, suas explicações baratas, suas desculpas patéticas. A dignidade, por mais mínima que fosse, eu iria mantê-la.

Recuei, lentamente, com o mesmo silêncio que havia entrado. Cada passo para trás era um funeral. O funeral da Sarah que acreditava em contos de fadas, da Sarah que planejava um futuro com Marcus. As palavras dele ecoavam na minha mente: "cavalga seu homem". Ele não era meu homem. Nunca foi.

Eu queria correr, me jogar da escada, desaparecer. Mas me forcei a descer os degraus com a mesma cautela que havia subido. A porta da frente parecia anos-luz de distância. Quando finalmente a alcancei e a fechei atrás de mim, o ar frio do corredor pareceu me sufocar. Lá fora, eu respirei fundo, ou tentei. O ar parecia não chegar aos meus pulmões.

Não derramei uma lágrima. Não uma sequer. A dor era grande demais para lágrimas. Era uma dor seca, sufocante. A raiva começava a borbulhar, uma fúria fria e determinada. Marcus não me merecia. Não merecia minhas lágrimas, minha dor, meu sofrimento. Eu não iria chorar por ele. Não iria me destruir por causa dele. Ele não tinha esse poder.

Enquanto eu caminhava sem rumo pelas ruas da noite, meu telefone vibrou no bolso da minha bolsa. O visor iluminou-se com o nome que eu menos esperava ver naquele momento:

"SR. LEONARDO FERRARI - CEO".

Um calafrio percorreu minha espinha. O que ele queria a essa hora? Era quase meia-noite. Eu estava em choque, meu corpo ainda tremia com a cena que eu acabara de presenciar. Relutei em atender, mas a tela persistia. Atendi, a voz rouca.

— Sarah? Ainda acordada? — a voz dele era grave, impaciente. — Preciso de um relatório urgente. Aquele sobre a projeção de lucros do próximo trimestre. Não consigo achar em lugar nenhum. Você sabe onde está?

Minha mente estava uma confusão. Relatório? Projeção? Tudo parecia distante, irreal.

— Senhor Ferrari... — comecei, a voz embargada.

— Não tenho tempo para 'senhor Ferrari', Sarah! É urgente. Estou aqui na empresa. Se puder vir...

Ele estava na empresa. E eu... eu estava no meio da rua, em um vestido vermelho que agora parecia me queimar, o rosto provavelmente uma máscara de dor e confusão. Por reflexo, ou talvez por um mecanismo de defesa que me impelia a fugir do meu próprio caos, respondi: 

— Estou indo.

Desliguei antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa. A empresa. Sim. Era o único lugar onde eu sabia o que fazer, onde eu poderia focar em algo que não fosse a imagem de Marcus e Gabriela. O único lugar onde eu poderia fingir que o mundo ainda fazia sentido. Mudei minha rota, meu destino, meu futuro. O que seria uma noite de entrega se tornou uma noite de inferno, e agora, de fuga para o único porto seguro que eu conhecia: o trabalho, com o chefe mais infernal que já existiu.

Quando cheguei à portaria do prédio da empresa, o segurança, Sr. João, que sempre foi cordial e discreto, me lançou um olhar que me fez parar. Um olhar que começou nos meus pés e subiu lentamente, demorando-se nas minhas pernas, no meu quadril, na minha cintura, nos meus seios, até alcançar meu rosto. Um olhar que me devorava.

Foi só então que eu me lembrei. O vestido. O maldito vestido vermelho. Sexy, sensual, provocante. Na empresa, eu sempre optava por roupas discretas, quase andróginas. Calças de alfaiataria, blusas soltas, blazers. Tudo para me misturar, para não chamar a atenção que meu chefe, Leonardo Ferrari, já recebia de sobra. Leo. Incrivelmente gostoso, sim, atraente de uma forma selvagem e perigosa. Mas com a boca... ah, com a boca ele perdia todo o encanto. Um cafajeste arrogante, que só sabia dar ordens e reclamar. Um "Mulherengo" inveterado, que colecionava secretárias e assistentes como troféus. Eu era a única que durara mais de um mês, quatro anos como sua assistente pessoal, e três como sua secretária. As outras saíam em lágrimas, ou por não aguentarem suas exigências, ou por caírem em sua lábia e se iludirem, para depois ele as dispensar com um cruel "foi só sexo".

Engoli em seco, sentindo o rubor subir ao meu rosto, não de vergonha pelo que vestia, mas pelo que eu tinha acabado de vivenciar. Ignorei o olhar do segurança, que ainda me acompanhava, e segui para o elevador, rezando para que não houvesse mais ninguém no andar de Leo.

A porta do elevador se abriu no andar executivo, e lá estava ele. Leonardo Ferrari. Andando de um lado para o outro perto da minha mesa, a expressão tensa e irritada, os passos pesados no carpete. Assim que me ouviu, ele virou a cabeça bruscamente. Seus olhos azuis encontraram os meus, e então, devagar, sem pressa, desceram pelo meu corpo. O olhar dele parou no meu vestido vermelho. Por um segundo, a irritação em seu rosto pareceu dar lugar a algo mais. Desejo. Muito desejo.

Ignorei. Endireitei os ombros, o máximo que pude com o peso no meu peito, e o cumprimentei educadamente, minha voz um sussurro. 

— Boa noite, Senhor Ferrari.

Ele apenas assentiu com a cabeça, os olhos ainda grudados em mim. Segui direto para minha mesa, procurando o relatório que ele precisava. Estava bem ali, na pasta de "Urgências", mas Leo, acostumado a depender de mim para tudo, não se deu ao trabalho de procurar. Ele esperava que eu estivesse disponível 24 horas por dia, pronta para resgatar sua ineficiência.

Peguei o relatório e estendi para ele. Nossos dedos se roçaram brevemente, e um choque elétrico percorreu minha pele. Ele me pegou de surpresa, pois não estava esperando por isso, e para Leo, que nunca demonstrava fraqueza, esse pequeno contato físico foi o suficiente para o seu corpo reagir de uma maneira bem sugestiva, deixando nítido o quanto ele me desejava. Sua respiração ficou pesada, e o desejo em seus olhos se tornou quase palpável.

Com aquele sorriso cafajeste que eu conhecia tão bem, e um brilho predatório nos olhos, ele pegou os papéis.

— Não sei o que faria sem você, Sarah — disse, sua voz mais rouca do que o normal, carregada de uma sugestão que ia muito além do profissional.

Ele se virou e caminhou em direção à porta de seu escritório, que ficava de frente para a minha mesa. Com a mão na maçaneta, ele parou, virou apenas o pescoço e me lançou um olhar malicioso.

— Você fica ainda mais atraente, com esse vestido vermelho. — Deu uma piscadela lenta e um sorriso safado que me fez prender a respiração. Abriu a porta e, antes de entrar e trancá-la, acrescentou, sem sequer olhar para mim:

— Deveria usar mais roupas assim, que te valorizam.

Eu não respondi. Não havia o que responder. O que havia era um nó na garganta, um turbilhão de emoções contraditórias. O corpo ainda doía com a traição, mas meu corpo, inexplicavelmente, respondeu ao olhar e às palavras de Leo. Senti um calor subir pelo meu rosto, um misto de raiva e... algo mais. Algo que eu não queria admitir.

A noite era uma longa e escura estrada. Eu só queria ir para casa.

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