Amanda nunca se sentiu tão invisível quanto depois da morte de Ryan. Não invisível para os outros, mas para si mesma. Passava os dias andando de um cômodo a outro, esquecendo o que tinha ido buscar. Olhava para a própria mão e pensava: essa mão ainda é minha? Sem aliança, sem função, sem destino.
À noite, quando as casas da rua fechavam suas janelas, ela ficava no sofá encarando a televisão desligada. O reflexo dela aparecia no vidro escuro, uma mulher de cabelo preso de qualquer jeito, olhos fundos, camisa manchada de molho porque não tinha energia de trocar. Não se reconhecia.
Foi nesse vazio que o convite de Juan chegou. Ligou uma tarde, voz firme como sempre, mas com uma ponta de cuidado.
— Amanda, vem pra cá hoje. Janta com a gente.
Ela quis recusar. Quis dizer que não queria encarar gente feliz. Mas a voz dele tinha algo de ordem, e ela estava cansada de passar noites em silêncio. Então foi.
A mansão de Juan parecia um cenário de outro mundo. O portão alto, as árvores alinhadas