Desde a noite em que revelou sua gravidez, Evelyn não tinha mais visto Reginald. Já se passavam duas semanas. E, por mais que tentasse não pensar nisso, a ausência dele era um vazio inquieto. Justificava para si mesma que era apenas pela semelhança com Donovan — os olhos idênticos, o modo como erguiam a sobrancelha quando contrariados, a forma como caminhavam com elegância distraída. Mas, no fundo, sabia que era mais do que isso.Era um misto confuso de saudade, raiva e rejeição. Evelyn oscilava entre a mágoa de ter sido ignorada e o alívio de não ter de lidar com o desprezo silencioso de Reginald. Às vezes, sonhava com ele — não como ele era agora, frio e distante, mas como nos primeiros dias, quando seu olhar parecia curioso, talvez até gentil. Depois acordava aflita, com a sensação de que havia se perdido em um labirinto emocional sem saída.Nos jantares formais organizados pelos sogros, onde era apresentada a parentes e acionistas da empresa, Evelyn sentia-se como uma peça fora do
A manhã nasceu com cheiro de decisão. Evelyn olhava pela janela do quarto, sentindo no rosto o toque leve do sol. Apesar da acolhida calorosa na mansão dos sogros, ela precisava de mais. Não apenas espaço, mas autonomia. Independência. Algo que refletisse quem ela era — não quem esperavam que fosse.Na sala de estar, com as mãos pousadas sobre o ventre ainda discreto, Evelyn falou com firmeza: — Eu não tenho do que reclamar, de verdade. Vocês foram maravilhosos comigo. Mas eu preciso de privacidade, de liberdade para tomar as rédeas da minha vida. De um espaço só meu.Cecil, com o rosto materno um tanto aflito, tentou disfarçar a decepção.— Mas, minha querida, e o bebê? Você não deveria enfrentar isso sozinha...Henry se adiantou, franzindo o cenho.— Você terá ajuda aqui. Segurança. Conforto.— Eu sei — respondeu ela, a voz embargada. — Mas também preciso respirar, fazer minhas escolhas. Quero criar meu filho com dignidade, não como uma hóspede eterna.A tensão cresceu no ambiente. A
Evelyn entrou no salão como se o mundo tivesse dado uma pausa para admirá-la. O vestido verde-esmeralda abraçava seu corpo com leveza, destacando o brilho natural dos seus olhos e o tom rosado que a gravidez lhe dava. Cabelos presos num coque elegante, com algumas mechas soltas emoldurando o rosto — ela tinha a beleza serena de uma manhã tranquilaOs convidados já circulavam com taças nas mãos, as vozes se cruzavam num burburinho elegante, e o aroma de flores recém-colhidas se misturava ao perfume refinado que pairava no ar. A mansão dos sogros, iluminada em tons quentes, parecia ainda mais imponente naquela noite, em homenagem aos 90 anos de Henrietta, a matriarca da família.A mãe da condessa, uma mulher de olhos alegres e um charme cativante, encantou Evelyn logo ao primeiro sorriso. Assim que a viu, Henrietta abriu os braços com doçura, acolhendo-a num abraço caloroso, daqueles que parecem durar mais do que o tempo. Com um brilho emocionado no olhar, passou a mão com carinho sobre
O restaurante à beira do lago exalava charme e sofisticação. O veludo das cadeiras, o jazz francês suave preenchendo o ambiente e os garçons discretos criavam uma atmosfera íntima e acolhedora — como se aquele espaço existisse apenas para encontros memoráveis. As pérgolas cobertas de flores pendentes acrescentavam um toque de sonho, fazendo tudo parecer saído de uma pintura viva.Evelyn entrou com o coração acelerado. A ansiedade não era só pelo encontro, mas pela própria elegância do lugar. Tinha crescido sem luxo, e por mais que apreciasse a beleza ao redor, aquele cenário a fazia lembrar de Donovan, que jamais a levara a lugares assim. Sentia-se um pouco deslocada... até que viu Damián.Ele já a aguardava, e quando a viu entrar, levantou-se imediatamente. O sorriso foi caloroso, sincero. Trazia nas mãos um buquê de rosas cor de champanhe.— São delicadas, como você — disse ele, estendendo as flores. — E têm a cor da paz que sinto ao seu lado.Evelyn ficou tocad
A sala privativa da clínica exalava conforto e discrição, com sofás de linho claro, arranjos florais frescos e uma música ambiente suave preenchendo o espaço. Evelyn apertava as mãos no colo enquanto esperava ser chamada, tentando conter a ansiedade. Estava nervosa para saber o sexo do bebê e queria ouvir do médico que seu filho estava bem. Ao seu lado, sentada com postura impecável e olhos ternos, estava sua sogra, a condessa. A presença dela era reconfortante. A cada dia, a relação entre as duas se estreitara. Havia carinho, havia apoio — e, naquele momento, havia uma silenciosa aliança entre duas mulheres que carregavam muito mais do que títulos nobres.Mas então, algo inesperado aconteceu.Ao olhar para a porta da recepção, Evelyn viu Reginald. Ele estava ali. Alto, imponente, vestindo um paletó escuro e com aquele olhar sempre indecifrável. Evelyn ficou estática por um momento, tomada por uma mistura de surpresa e emoção. Por mais que ele tentasse se manter afastado, aquela presen
Evelyn, por dias, permaneceu envolta nas palavras de Geoffrey. Algo naquelas frases havia se entranhado nela como uma semente inquieta. Desde o início, percebera a tensão silenciosa entre seu sogro e o mordomo, uma tensão que ia muito além de protocolos e hierarquias. Os dias que permaneceu morando na mansão, via olhares desviados, silêncios longos demais, e uma espécie de lealdade ferida pairando no ar.O que a deixava intrigada era o fato de Geoffrey ainda permanecer naquela casa, naquela função — mesmo diante de um ambiente visivelmente constrangedor. Por que suportar isso? Por que não ir embora? A resposta parecia estar enterrada em algo mais profundo. Era evidente: os sentimentos dele por Donovan haviam ultrapassado, há muito, os limites da formalidade.Evelyn não sabia exatamente o que se escondia por trás daquela devoção silenciosa. Mas começava a suspeitar que havia uma história ali — antiga, intensa. Algo que ninguém ousava contar...Semanas depois, Reginald apare
A mala caiu sobre o chão de madeira com um baque seco, mas Reginald não se importou com o som. Estava de volta após quinze dias de viagem pelos hotéis e resorts da corporação, mas em nada aquilo lhe trouxera paz. Passara dias imerso em planilhas, relatórios e inspeções rigorosas, tentando ao máximo manter a mente ocupada. Mas nenhuma sala de reunião, por mais luxuosa que fosse, conseguia apagar de sua memória o gosto dos lábios de Evelyn.A lembrança era como uma maldição: o toque suave, o cheiro do perfume dela, a maneira como o mundo parecia parar por alguns segundos… tudo aquilo lhe corroía a alma.Ele se jogou no sofá da própria sala, afrouxando a gravata. O celular vibrou ao seu lado. Era Veronica.Ele apenas virou o aparelho com a tela para baixo, sem atender. Desde o episódio no restaurante, em que percebera a encenação armada para pressioná-lo, algo se partira entre os dois. Não havia mais encanto, nem respeito — apenas um pacto de aparências. E ele já não
O interfone tocou novamente. Evelyn atendeu com o coração acelerado. Era Reginald.— Vá embora, por favor. Não temos mais o que falar — disse, tentando manter o controle.— Não vou embora até falarmos sobre esse noivado absurdo.— Não perca seu tempo — respondeu, desligando.O silêncio permaneceu por um instante. Até que ela ouviu o som metálico da fechadura girando.Assustada, levantou-se. E viu Reginald entrando sem cerimônia.— Como ousa? — exclamou, indignada. — Me dê essa chave agora mesmo! Você não tem esse direito.Ele fechou a porta atrás de si, ignorando sua raiva.— Você cometeu um erro — disse, o olhar fervendo.Evelyn cruzou os braços, tentando conter a tempestade dentro dela.— Você não pode me cobrar nada — disse, firme. — Está com Veronica, lembra?— Eu não estou noivo dela. Nunca estive — respondeu ele, com a voz dura.– Mas me disseram que viram vocês entrando em uma joalheria!– Sim, fui lá com ela. Minha secretária fez aniversário, e a Veronica suge