A porta da casa se fechou suavemente atrás de Evelyn, abafando os ruídos da cidade como se o mundo lá fora não pudesse mais alcançá-la. A conversa que tivera naquela tarde com a funcionária da biblioteca ainda ecoava em sua mente como um trovão abafado, repercutindo em cada canto da sua alma. O escândalo. O nome do seu pai envolvido com um homem casado. O silêncio comprado. As manchetes sufocadas. As memórias sobreviventes apenas nas palavras de uma senhora idosa, cujo olhar carregava mais verdade do que qualquer arquivo oficial.
Evelyn tentara encontrar registros do amante do seu pai, mas o obituário estava vazio. Nada. Nenhuma nota, nenhuma homenagem, nenhum adeus. Como se ele jamais tivesse existido. Não era à toa que tentaram enterrar a história. Se hoje assumir a própria sexualidade ainda exige coragem, o que dizer de décadas atrás? Aquela relação fora uma bomba prestes a explodir — e alguém se certificara de que ela fosse desativada a qualquer custo.
Tirou os sapato