Capítulo 26
Érico
Eu não tinha muito tempo. Sabia que o cerco estava se fechando, e se eu ficasse parado, iam passar por cima de mim — e dela. Só uma pessoa no mundo poderia me ouvir sem me julgar: minha mãe.
“Mãe, posso passar aí?”
“Claro, meu amor! Aconteceu alguma coisa?”
“Depois a gente conversa. Um beijo.”
Nem esperei resposta. Desci, entrei no carro e dirigi direto pra casa onde cresci. O velho, no divórcio, abriu mão daquela casa como quem joga migalha: “pode ficar com essa porcaria, é trocado perto do que eu tenho, e assim não vejo mais tua cara.” Ele achava que tinha saído por cima — mal sabia que aquela “porcaria” era o único lugar onde o amor realmente existiu.
A casa continuava do mesmo jeito. Simples, aconchegante. Abri o portão com o controle que ainda guardo no chaveiro, entrei com o carro e estacionei. Vera, minha mãe, já me esperava na sala. Ela sempre soube quando eu estava prestes a desabar.
Alta, magra, dona de uma elegância que o tempo não ousou roubar. Vestia um