Érico
Saí da faculdade com a cabeça fervendo. O ar frio da tarde parecia aliviar um pouco, mas o aperto no peito não passava.
Enquanto caminhava pelas calçadas meio desertas, vi um rapaz segurando uma bebezinha no colo — ela usava um macacão cor de rosa e balançava os bracinhos como se fosse dona do mundo.
Por um instante, fiquei parado, olhando.
“E se fosse uma menina também?”, pensei.
Aquela vozinha maldita sussurrou no fundo: “Você nem tem certeza se é seu…”
Mas eu calei essa voz.
A Enya não era do tipo aproveitadora. Tinha um jeito de quem carrega muito nas costas, mas não de quem faz jogo sujo.
Continuei andando, empurrando pra longe a dúvida que me mastigava por dentro.
Quando cheguei ao apartamento, quem abriu a porta foi a Bruna — com aquele jeito meio debochado, meio dona da situação.
Ela me mediu de cima a baixo e sorriu.
— Olha só, Érico Monteverde filho! — falou, carregando o nome como se fosse um troféu de sarcasmo.
Ergui a sobrancelha, confuso.
— Como você sabe meu nome?