O vento da madrugada batia contra as janelas, fazendo um som parecido com lamentos. Eu estava na cama, imóvel, mas não dormia. Não desde que Ricardo me contou tudo, com cada detalhe que eu ainda não tinha reunido. Ele tinha sido o último fio que faltava costurar: agora, o bordado macabro estava completo.
Do meu lado, meu marido dormia pesado, como um animal que nunca teme a caça. Eu o observava e pensava em como a vida pode ser irônica. Ele achava que era caçador. Não sabia que já estava na mira.
Peguei o celular escondido sob o travesseiro. O número de Elena — ou Projeto, como salvei — piscava na minha lista de contatos como uma ferida aberta. Respirei fundo, abri o aplicativo e comecei a digitar.
"Você sabe quem eu sou."
A mensagem foi. Três segundos. Os risquinhos azuis. Ela estava acordada também.
"Prove."
Sorri. Até nisso ela era previsível. Digitei outra mensagem, calma, certeira:
"No dia do acidente, você usava um vestido vermelho. Eu sei porque ainda sonho com a cor do sangue.