A Casa Raízes já não era apenas um projeto em construção. Tornara-se realidade pulsante. Mulheres chegavam diariamente, algumas com malas pequenas, outras apenas com o corpo e as cicatrizes invisíveis que carregavam. Clara caminhava pelos corredores restaurados do casarão como se percorresse um templo. Ali, cada sala tinha um propósito: oficinas de escrita, de costura, de arte. Cada canto respirava vida nova.
Mas, em meio a tantos rostos, havia um que a perturbava profundamente.
Seu nome era Júlia. Tinha pouco mais de vinte anos, os olhos grandes e assombrados, os gestos contidos como quem esperava um golpe a qualquer momento. Chegara à Casa com um corte no braço e uma voz tão baixa que parecia desaparecer entre as paredes. Quando Clara a viu pela primeira vez, sentiu o coração apertar. Era como olhar para um reflexo do passado, uma versão jovem de si mesma, antes da queda, antes da coragem.
Naquela tarde, Clara encontrou Júlia sentada sozinha no jardim, os joelhos encolhidos contra o