Felipe Diniz
Desço do carro e, de imediato, sinto os olhares como pressão no peito — olhos que medem, que recuam, que se acomodam ao saber do que sou capaz. A clínica tenta fingir normalidade; eu sinto a falsidade como cheiro de sabonete barato. Nada me surpreende. Só aumenta a precisão do meu foco.
Caminho pelos corredores como quem pisa em território de caça. Passos longos, controle absoluto. Cada músculo atento. Cada respiração calculada para não entregar o que realmente pulsa por baixo: um calor que é raiva e necessidade ao mesmo tempo. O corpo inteiro vibra num modo que conheço bem — alerta, pronto para explodir, mas dominado por estratégia.
A voz dela chega primeiro: doce, tremida, implorando. Uma violência mansa. A mesma voz que geme quando eu a tenho, agora pedindo por outro homem. Isso corta como lâmina. Sinto o estômago virar. Um ranço sobe pela garganta — mistura de traição e nojo. Meus punhos se fecham até doer; os nós dos dedos embranquecem. O sangue lateja nas têmporas.