Felipe
Dirijo até o alto do edifício onde costumava ir quando o mundo ficava insuportável. O mesmo terraço onde escrevi parte do livro. O mesmo lugar onde, por um breve momento, achei que poderia colocar meu coração em palavras sem destruí-lo no processo.
O elevador sobe devagar demais, como se o prédio inteiro soubesse que eu não tenho mais tempo para nada — nem para mentiras, nem para arrependimentos, nem para repetir os ciclos que me trouxeram até aqui.
Quando finalmente abro a porta metálica e piso no terraço, o vento me atinge como um aviso. Frio. Cortante. Quase cruel na sua honestidade.
O vento aqui sempre foi diferente. É mais limpo, mais direto, como se arrancasse do meu peito aquilo que eu tento esconder do mundo. E, ao mesmo tempo, é o único lugar onde consigo respirar sem sentir o peso do meu próprio nome.
Acendo um cigarro, mesmo sabendo que prometi parar. A verdade é que nunca fui bom em promessas — nem para mim, nem para ela. Observar a fumaça subir é a única coisa que