Helena
Eu entro no prédio sem olhar para trás. Porque se eu olhar, eu volto. E se eu volto, eu desmorono. E se eu desmorono… eu não levanto mais. O saguão parece maior, mais vazio, mais frio. As luzes brancas parecem me expor, como se todos pudessem ver a rachadura aberta no meio do meu peito. Ou talvez isso tudo esteja só dentro de mim — porque por dentro eu estou caindo, despencando como alguém que perdeu o chão e continua despencando mesmo depois de chegar no fundo. Por fora, sigo andando. Um passo. Depois outro. Automático. Robótico. Como se o meu corpo tivesse se desligado de mim, tentando me salvar da dor que insiste em furar meus pulmões.
Eu ignoro olhares. Ignoro o segurança que me chama pelo nome. Ignoro minha própria imagem no painel espelhado do elevador — uma imagem que parece deformada pelo que eu estou sentindo. Quando as portas fecham, o silêncio é ensurdecedor. Eu aperto o botão do quarto andar. É o andar mais vazio. O mais esquecido no horário comercial. E eu preciso