Helena
O barulho da cidade chega abafado pela janela do carro, como um fundo distante que já não me pertence. Minha mente está em outro lugar. Em outro tempo.
Os últimos dias ao lado de Felipe foram um turbilhão — exaustivos, incendiários e viciantes. Ele me consome e me liberta ao mesmo tempo, como se tivesse descoberto a chave secreta de cada fraqueza minha. Toda vez que penso em resistir, basta o roçar dos dedos dele na minha pele para meu corpo traí-lo antes mesmo que minha boca diga “não”. Toda vez que tento fugir, é no olhar dele que me perco… e volto.
É um ciclo que me prende mais do que qualquer corrente. E, no fundo, sei que não é apenas desejo. O desejo eu até poderia sufocar, negar e matar aos poucos. Mas o que nos une é mais profundo, mais perigoso. É o passado — cruel e doce — que insiste em me assombrar e me lembrar de tudo o que tentei esquecer.
Felipe não é só um homem. Ele é a lembrança viva do que já foi meu e do que ainda pode ser. Um risco que pulsa dentro de mim,