Helena
Existem medos que entram na pele como vento frio: não doem, mas avisam. Hoje… o vento está gelado demais. E não tem janela aberta.
Estou organizando relatórios na minha mesa quando sinto — não vejo, não ouço, eu sinto — que alguém está me observando.
É como um peso leve no ar, como o toque de um dedo invisível percorrendo minha nuca.
Levanto o olhar discretamente. Não vejo ninguém. Mas a sensação não vai embora. Ao contrário: ela se espalha. É quase uma presença. Uma sombra. Um passo atrás do meu. Respiro fundo e tento focar. Tento me convencer de que estou exagerando, que é apenas o estresse, a guerra velada que começou a tomar os corredores, o olhar frio de Adrian ainda queimando em algum lugar da minha mente. Mas não. Isso é diferente. Isso é físico. E então acontece de novo. Um reflexo. No vidro da janela ao meu lado — por um segundo — vejo a silhueta de alguém parado a poucos metros atrás de mim. Me viro rápido. A cadeira cai com o movimento brusco. Mas não há ninguém.