Helena
O andar 28 sempre foi silencioso demais. Ele guarda documentos antigos, caixas cheias de papéis e contratos que ninguém mais lê. É um lugar esquecido. Um lugar “neutro”. Mas hoje… hoje ele parece um altar. E eu, a oferenda. As luzes estão mais fracas que o normal. O ar, mais frio. A cada passo, meus saltos ecoam como se anunciassem que algo está muito errado. Eu sinto. Meu corpo sente. Minha pele sente. A porta da sala de contratos está aberta alguns centímetros. E antes mesmo de tocar nela, eu escuto:
— Não precisa ter medo, Helena.
A voz desliza como seda sobre vidro.
Adrian.
Eu fecho os olhos por um segundo. Apenas um. Como quem respira antes de atravessar a tempestade. Depois empurro a porta. Ele está ali. Encostado na mesa central, impecável como sempre — a alfaiataria que se molda ao corpo, o sorriso que parece cortado à navalha e o olhar de quem já sabe exatamente como a cena termina.
— Você demorou. — Ele comenta, como se estivesse esperando uma convidada para um jantar