Na manhã seguinte, o aroma de café fresco subia como fumaça sagrada pelos corredores da mansão. Era um cheiro morno e acolhedor, mas naquele dia carregava um peso agridoce — como se até os aromas soubessem que a paz ali era apenas aparência.
Amanda desceu as escadas devagar, com a elegância instintiva de quem já estava acostumada a se recompor mesmo depois de noites partidas ao meio. A camisola longa de seda tocava seus tornozelos, e o robe de cetim bege estava frouxamente amarrado, revelando parte do colo marcado por tensão e silêncios. Os olhos, porém, estavam firmes. Límpidos. Mas frios. Muito frios.
Daniel estava à mesa. Encolhido sobre a caneca, os cotovelos apoiados na madeira como se sustentassem o peso do mundo. O vapor subia da xícara, tremulando diante de seu rosto abatido. O olhar perdido no líquido escuro. Como se ali houvesse alguma resposta. Não havia.
Amanda parou na porta.
A temperatura do ambiente pareceu cair alguns graus.
— Bom dia — ele disse, a voz baixa, sem ergu