O céu de Tulum ainda era um borrão violeta e dourado, quando Lucca parou o carro em frente à casa. A brisa salgada do mar entrava pelas janelas abertas, carregando o cheiro de flores e terra úmida. Mas para ele, o ar parecia pesado, denso, quase sólido — como se cada partícula carregasse o peso da escolha que ele havia adiado por anos.
A porta entreaberta era um convite e uma sentença.
Helena estava ali, na soleira, vestindo um simples vestido de algodão, os pés descalços, os olhos marcados por noites sem dormir. E mesmo assim, havia uma beleza crua nela — uma força quieta, amarga.
— Ele ainda está dormindo — disse ela, sem rodeios, como quem já ensaiou aquele momento mil vezes.
Lucca assentiu com um leve movimento, os olhos marejando sem permissão.
— Eu… posso vê-lo?
Helena hesitou. O tempo pareceu se dilatar entre a pergunta e a resposta. Depois, com um suspiro quase imperceptível, ela se virou.
— Entra.
Ele atravessou a porta como quem pisa em território sagrado. O chão de madeira