Na penumbra densa do escritório de Lucca, apenas o brilho azul-esbranquiçado do monitor recortava silhuetas e sombras. A cidade dormia do outro lado da vidraça, mas ali dentro tudo fervia. O ar carregava uma eletricidade muda, como a de um campo de batalha logo antes do primeiro tiro.
Amanda se sentou diante da mesa, ainda vestindo o blazer branco da coletiva — símbolo da sua autoridade recém-reafirmada. Os botões agora estavam abertos, revelando a blusa de seda marcada pelo suor e pela tensão. A postura ainda era reta, mas os ombros denunciavam exaustão. Não era fraqueza. Era o cansaço digno de quem lutou com honra. Desmontava a armadura, mas mantinha os olhos em chamas.
Lucca serviu o café sem dizer nada. O gesto era cuidadoso, íntimo. Sentou-se ao lado dela, curvado para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos, o maxilar tenso como se contivesse palavras demais.
— A coletiva foi um tiro de precisão. — A voz dele saiu baixa, grave, rouca de desgaste e orgulho. — Mariana saiu antes