130: Voz que não se cala

O dia amanheceu com um céu pesado, carregado, como se o mundo inteiro prendesse a respiração antes da tempestade. A garoa fina escorria pelos vidros do quarto de vestir como lágrimas que ela não derramaria. Mas Amanda estava em pé. Firme. Ardendo por dentro como uma tocha silenciosa.

Ali, diante do espelho bisotado, ela não via apenas o reflexo de si mesma — via o escudo, a armadura. Cada peça de roupa, cada linha do delineador, cada dobra da calça milimetricamente passada era uma escolha calculada. Não para esconder a dor — mas para exibir a força.

Nada de ornamentos. Nada de sentimentalismo. Nada de ruídos.

Blusa de seda marfim: pureza e firmeza.

Calça alfaiatada azul-acinzentada: frieza pensada, autoridade que não suplica.

Brincos discretos: elegância sem submissão.

Coque baixo: domínio. Delineador afiado: lâmina sob os olhos — e ninguém sangrava mais do que ela para saber o que era se manter de pé.

Quando Lucca entrou, o silêncio que o acompanhava dizia muito. Ele a olhou como que
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