A tarde caía, tingindo o céu de tons alaranjados, quando Daniel entrou na antiga biblioteca da mansão. Havia algo de opressor naquele cômodo — as estantes altas, os livros enfileirados como testemunhas mudas de gerações de Mancinis que se julgavam intocáveis.
Vitória estava ali, sentada em uma poltrona de veludo bordô, com uma taça de vinho tinto na mão. A postura ereta, o olhar atento ao jornal econômico do dia. Impecável como sempre — ou ao menos, como sempre quis parecer.
— Daniel — disse, sem levantar os olhos. — Achei que você ainda estivesse vagando pelas ruas.
Ele não respondeu de imediato. Caminhou até a outra poltrona, sentou-se de frente para ela. Só então falou:
— A gente precisa conversar.
Vitória ergueu os olhos devagar. Aqueles olhos claros que sempre misturavam frieza e cálculo.
— Se for pra mais um dos seus surtos emocionais, prefiro que fale com um terapeuta. — Ela levou a taça aos lábios. — Ouvi dizer que agora você anda investindo nisso.
Daniel ignorou a provocação.