O silêncio da casa pesava como concreto armado. Não era só ausência de som — era ausência de sentido.
Daniel andava em círculos pela sala, como um animal acuado num espaço que conhecia bem demais e, ao mesmo tempo, não reconhecia mais. Cada passo ecoava no assoalho de madeira como uma acusação. Os dedos tamborilavam contra a coxa, inquietos, ansiosos, como se o corpo quisesse fugir, mesmo que a mente não soubesse pra onde.
“Você precisa sair daí…”, Amanda dissera.
Mas sair de onde, exatamente? Da casa? Da cidade? Do peso do próprio nome?
Era fácil dizer “sai daí” quando não se era o cárcere. E ele era.
Era o cárcere e o prisioneiro.
Era o erro e a ferida.
Era o sumiço e a tentativa de retorno.
Num impulso quase desesperado, pegou a chave do carro e saiu. O sol estalou em seus olhos como uma bofetada. A claridade era violenta demais para quem havia se habituado às sombras.
Dirigiu por avenidas que conhecia de cor, ruas que sabiam mais dele do que ele mesmo. Parou no sinal onde costumav