Saí do quarto sem olhar para trás. O som abafado da televisão ligada na sala misturava-se aos meus pensamentos, cada vez mais distorcidos.
Não havia como voltar à cama depois daquilo. Nem havia cama onde deitar, na verdade. Apenas um passado que parecia se desfazer, camada por camada, diante dos meus olhos. E no fundo, bem fundo, eu já não tinha certeza se era uma raiva, ou um alívio, eu não sentia mais vontade de tocar em Maria Clara, em estar perto.
O peso do que estava acontecendo, transitava entre nós dois, a culpa não era únicamente dela, era nossa, mas ao pensar em Maria Vitória, não havia arrependimento algum, eu jamais seria um hipócrita para tanto, mas sabia que era momento de me afastar.
Fui até a varanda, com o cabelo ainda molhado do banho. A brisa da noite era cortante. Sentei na cadeira de madeira, encostei a cabeça na parede e fechei os olhos. O meu corpo cedia, mas a mente ainda processava as palavras de Clara, era como ferro atravessando a carne, sem passagem ou aneste