Caius Varella
O som do despertador tocou.
Não que eu precisasse dele. Não que eu tivesse dormido, de verdade.
Passei a mão no rosto, respirando fundo, sentindo o peito pesado, como se o corpo inteiro tivesse apanhado a noite toda. Na real… apanhou.
Da vida.
Dela.
De mim mesmo.
Levantei, vesti a calça social, a camisa. As mãos tremiam quando ajeitei a barra da manga. Fitei meu reflexo no espelho.
Quem é você, Caius?
Essa pergunta já parecia tatuada na minha testa nos últimos dias.
Saí do quarto. O cheiro de café fresco bateu na cara junto com o cheiro dela, da casa dela — da casa que também era minha, ou… tinha sido.
Desci as escadas devagar.
E lá estava ela.
Selene.
Sentada na mesa do café, impecável. Vestido preto justo, blazer branco, cabelo preso num coque elegante, maquiagem leve, mas suficiente pra deixar claro: “Hoje eu não sangro. Hoje eu sou faca.”
O olhar dela cruzou com o meu por meio segundo. Só meio. Só o bastante pra me lembrar que o abismo entre nós agora era real.
— Bom