VITTORIO NARRANDO
Minha mão congelou com o charuto a meio caminho da boca.
— Valéria ?
— Chegou ontem. Disse que quer falar com o senhor. Pessoalmente. Disse também que está cansada de esperar.
Fechei os olhos por um segundo.
Valéria não era qualquer mulher. Crescemos juntos. Ela, eu e minha falecida esposa, e por muitos anos, antes da tragédia, havia quem apostasse que Valéria seria a esposa. O nome Morelli já estava quase gravado no sangue dela.
Depois que a morte selou os caminhos que a vida não escolheu, Valéria foi enviada pra Sicília. Agora estava de volta. E junto dela… os sussurros.
Casamento. União. Estabilidade.
— Ela está aqui? — perguntei.
— Sala de estar. Disse que não sairia enquanto não visse o senhor.
Desci com passos lentos, com a sensação de que cada degrau era uma cobrança silenciosa do passado. Quando entrei na sala, ela estava de pé. Mesmo depois de tantos anos, Valéria ainda exalava o mesmo veneno doce: elegância, cálculo e presença. Os cabelos negr