A manhã chegou encoberta por uma chuva fina que riscava as janelas.
O vento balançava as cortinas com um som de lamento suave, como se a casa respirasse mais fundo nos dias cinzentos.
Mila acordou devagar, com a sensação de que algo a puxava de volta ao sótão.
Por dias, tinha evitado descer até aquele espaço.
Era mais fácil fingir que não havia nada ali que pudesse mudar o jeito como via a mãe.
Mas naquela manhã, entendeu que não podia mais adiar.
Não se quisesse começar de verdade.
Fez café e tomou em silêncio, olhando a chuva deslizar pelos vidros.
Depois amarrou o cabelo, vestiu um casaco grosso e acendeu a lanterna que guardava na gaveta da cozinha.
O sótão estava úmido, impregnado pelo cheiro doce de papel antigo.
Ela se agachou perto de uma pilha de caixas empilhadas ao lado da parede de pedra.
O coração batia tão alto que parecia preencher todo o espaço.
Por alguns minutos, ficou só olhando.
Tentando reunir coragem para tocar o passado.
E, então, abriu a primeira caixa.
Os obje