Mila passou a manhã girando em torno da carta.
Tinha lido as palavras da mãe para Kreshnik tantas vezes que já conseguia recitá-las de memória. Mas ainda assim, a cada leitura, um novo detalhe parecia pulsar — como se o papel respirasse, como se Emine ainda estivesse ali, à espreita, sussurrando o que não conseguiu dizer.
Ela não contou mais nada a Blerim. Agradeceu o vaso de lavanda, ofereceu chá, conversaram sobre o tempo. Mas a carta ficou guardada no fundo de uma gaveta, como um segredo que ainda precisava amadurecer no escuro.
No dia seguinte, Mila acordou com a cabeça quente e o peito leve. Uma sensação estranha — como se algo tivesse mudado de lugar por dentro.
Decidiu que precisava sair. Respirar outro ar. E talvez… perguntar.
Lembrou da pequena biblioteca de Berat — um prédio antigo que, por anos, tinha ficado desativado, fechado por falta de recursos. Mas, dias antes, alguém na vila comentara que ela fora reaberta com horário limitado: terças e quintas pela manhã.
Era quinta